Evidências fósseis de incêndios florestais, na forma de carvão fóssil, ocorridos durante o período Cretáceo são encontradas em um grande número de localidades em todo o mundo. Pesquisas nas áreas de paleontologia e paleobotânica têm argumentado que os paleoincêndios florestais estão ligados à evolução e à radiação de angiospermas durante o Cretáceo.
O estudo mais recente, com registros para o atual Egito, teve o material coletado na região da Península do Sinai, que corresponde à Formação Malha, área com fósseis do Cretáceo Inferior (compreendido entre 145 milhões e 100,5 milhões de anos, aproximadamente). André Jasper, da Univates, Haytham El Atfy e Mahmoud Kora, da Universidade de Mansoura (Egito), Rafael Spiekermann e Dieter Uhl, do Instituto de Pesquisa Senckenberg e do Museu de História Natural (Alemanha), assinam o estudo.
Novas evidências de incêndios no período, desta vez encontradas no Egito, foram analisadas por um pesquisador da Universidade do Vale do Taquari - Univates e publicadas no periódico South African Journal of Geology. Previamente, pesquisadores da Universidade que atuam na área já estiveram envolvidos em estudos que identificaram evidências de paleoincêndios na Antártica, na Alemanha e na Índia.
Apesar das crescentes evidências da ocorrência mundial de incêndios florestais durante o Cretáceo, o banco de dados disponível para incêndios florestais pré-Aptianos, ou seja, de uma das idades nas quais o Cretáceo Inferior se subdivide, ainda é escasso para muitas regiões quando vistos em escala global, dificultando interpretações sobre as interações entre a ecologia do fogo e a evolução dos ecossistemas durante o período.
A importância do estudo sobre paleoincêndios
Incêndios vegetais são eventos comuns em ecossistemas modernos e também passados, sendo um importante motor evolutivo da biodiversidade e da dinâmica dos ecossistemas desde o surgimento das primeiras plantas vasculares no período Siluriano, intervalo que vai de 443,8 milhões a 419,2 milhões de anos. Em geral, após o fogo, as plantas que não sofreram combustão completa podem ser incorporadas aos sedimentos e fossilizadas como macro-charcoal, portanto, fornecendo evidências da ocorrência de paleoincêndios nos paleoambientes no tempo profundo.
Os paleoincêndios ocorreram concomitantemente com o surgimento das primeiras plantas terrícolas e se distribuíram por todo o Planeta Terra, ocorrendo em diferentes intensidades. Como o fogo é um dos fatores que moldaram a biodiversidade ao longo dos milhões de anos, as plantas fossilizadas, entre elas, o macro-charcoal, fornecem informações sobre a vegetação que foi queimada e sobre as condições ambientais e climáticas ao longo do tempo profundo.
O estudo desses registros é importante e permite tirar conclusões sobre a composição da vegetação afetada pelo fogo e algumas das condições das áreas circundantes, bem como amplia o conhecimento sobre o passado geológico de determinada localidade.
As pesquisas científicas indicam que o Cretáceo foi um dos períodos de maior incidência de paleoincêndios na história da Terra, de alta concentração de (paleo)oxigênio, de altas temperaturas e de delimitação dos limites continentais atuais. No entanto, a distribuição desses registros de carvão fossilizado é desigual entre os hemisférios - o Hemisfério Norte possui uma quantidade muito superior que o Hemisfério Sul.