Um estudo publicado recentemente com a colaboração de um pesquisador da Universidade do Vale do Taquari - Univates, professor Eduardo Périco, teve como objetivo analisar a situação epidemiológica e sanitária das áreas endêmicas para esquistossomose em Alagoas, no período de 2010 a 2017. A partir dos resultados obtidos, que forneceram um panorama epidemiológico e sanitário de Alagoas, outros aspectos podem ser correlacionados para estudos futuros, como a inclusão de indicadores de saúde ambiental.
O trabalho é resultado da cooperação do Laboratório de Ecologia e Evolução, vinculado ao Museu de Ciências da Univates e ao Programa de Pós-Graduação em Ambiente e Desenvolvimento (PPGAD), na linha de pesquisa Determinantes ambientais em saúde, coordenado pelo professor Eduardo Périco, com o Programa de Pós-Graduação em Promoção da Saúde (PPGProSaúde) da Universidade Luterana do Brasil (Ulbra), por meio do projeto Vulnerabilidade socioambiental e qualidade de vida das populações em áreas endêmicas para doenças negligenciadas no Brasil, coordenado pela professora doutora Eliane Fraga da Silveira.
O artigo faz parte do projeto que o grupo vem desenvolvendo, referente à epidemiologia de doenças negligenciadas. São doenças endêmicas, relacionadas a condições precárias de saneamento, que ocorrem usualmente em populações vulneráveis em diferentes regiões do País.
Os trabalhos realizados no grupo visam a fornecer dados e análises que subsidiem políticas públicas para prevenção de doenças negligenciadas. As principais doenças que estão sendo estudadas pelo grupo são hanseníase, leishmaniose, esquistossomose e dengue, sempre abrangendo os aspectos epidemiológicos e os fatores ambientais, sociais e econômicos envolvidos.
Nataly Salvatierra Sodré, Eduardo Périco, Nádia Teresinha Schröder e Eliane Fraga da Silveira assinam o estudo. As informações para a pesquisa foram obtidas nos seguintes bancos de dados: Sistema de Informação do Programa de Vigilância e Controle da Esquistossomose, Sistema de Informações sobre Mortalidade e censo demográfico do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística do Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde.
A área do estudo abrangeu as Regiões de Saúde (I, II, III, IV, V, VI, VII e VIII) inseridas nas macrorregiões de Maceió e Arapiraca. O estudo Esquistossomose mansônica e o saneamento ambiental no estado de Alagoas, Brasil foi publicado na revista Research, Society and Development.
Os resultados
A partir das análises dos dados, a menor taxa de positividade esquistossomose ocorreu na Região de Saúde V no ano de 2017. As Regiões de Saúde IV e III apresentaram percentuais de positividade acima de 10%. A tendência temporal foi significativa para as Regiões de Saúde IV, V, VI e VII. Os casos positivos de esquistossomose da Região de Saúde II tiveram o menor percentual de indivíduos tratados no ano de 2017. Os óbitos foram mais representativos na Região de Saúde IV. Os índices de esgotamento sanitário apresentaram condições precárias em todas as localidades.
Embora note-se uma visível redução de casos positivos da doença, resultado da eficácia das ações de controle nas áreas endêmicas e melhorias na qualidade de vida da população, algumas regiões mostram que a situação epidemiológica da esquistossomose mansônica continua um grave problema de saúde pública no estado de Alagoas.
A situação epidemiológica da esquistossomose em Alagoas no período analisado mostra uma tendência decrescente de casos nas áreas prioritárias para controle, sugerindo que as ações do Programa de Controle da Esquistossomose (PCE) foram satisfatórias e que as metas da Organização Mundial da Saúde (OMS) estão sendo atendidas.
Com os resultados, os pesquisadores propõem um direcionamento das políticas públicas de saúde para as regiões que mostraram estabilidade nas taxas de positividade ou alta carga parasitária, bem como elevadas taxas de mortalidade. Entretanto, a ausência de atualização dos dados do PCE é um fator limitante para a continuidade do estudo.
Os achados da pesquisa expõem a complexidade e negligência no controle da esquistossomose mansônica em Alagoas, que é uma região em que a doença é historicamente endêmica e apresenta elevado número de casos positivos anualmente, destaca o professor da Univates.
O tema está incluso no terceiro Objetivo de Desenvolvimento Sustentável, que busca acabar, até 2030, com as epidemias de doenças tropicais negligenciadas e perpassa por outros temas importantes, como a erradicação da pobreza, água potável e saneamento.
As regiões críticas para a morbimortalidade por esquistossomose estão situadas na Zona da Mata, explica Périco, que apresenta condições favoráveis para o ciclo de vida do hospedeiro intermediário. Além disso, fazem fronteira com o estado de Pernambuco, que também tem alta endemicidade para a doença.
A execução de ações preventivas, como a quimioterapia preventiva, educação em saúde e o controle dos hospedeiros intermediários, aliada às melhorias nas condições de vida da população alagoana parecem impactar positivamente na redução da positividade da esquistossomose , mas o déficit de saneamento básico, principalmente nas áreas rurais, demonstra a dificuldade de erradicar a doença, declara Périco.