No Programa de Pós-Graduação em Ambiente e Desenvolvimento (PPGAD) da Universidade do Vale do Taquari - Univates existe um grupo de pesquisadores envolvidos com o projeto Identidades étnicas em espaços territoriais da bacia hidrográfica do Taquari-Antas/RS, coordenado pelo professor doutor Luís Fernando da Silva Laroque e dedicado a entender as dinâmicas históricas, sociais e culturais do Vale do Taquari sob o enfoque das ciências ambientais.
Uma das investigadoras é a doutora Janaíne Trombini, cujo doutorado foi concluído recentemente, com parte da pesquisa sendo desenvolvida na Itália. A historiadora, em sua tese, pesquisou a história ambiental e as espacialidades ítalo-brasileiras por meio de estudo comparativo em territórios no norte da Itália e ao norte do rio Taquari/RS, tendo como base o período compreendido entre os séculos XIX e XX.
Os imigrantes italianos chegaram ao Brasil no final do século XIX. Na Província de São Pedro do Rio Grande do Sul, foram destinados à porção territorial situada na Encosta Superior do Planalto, entre os vales do rio Caí e do rio das Antas, e posteriormente, a territórios atualmente denominados Vale do Taquari.
Um estudo derivado da tese foi recentemente publicado na Revista História Unisinos, o qual associa fatores climáticos aos imigrantes italianos e seus descendentes na terra nuova (como se referiam aos novos territórios ocupados no RS). A terra nova vivenciada pelos imigrantes italianos e seus descendentes em territórios do rio Taquari apresenta clima semelhante ao local de proveniência, caracterizado por baixas temperaturas. Neste local os principais cultivos manejados foram o milho e a uva.
Terra nuova?
Comparando o território de proveniência (norte italiano) dos imigrantes e descendentes e o local em que foram instalados no Vale do Taquari/RS, constatou-se que a terra nova vivenciada por eles não era necessariamente tão diferente da do local de origem, pois apresenta clima semelhante, caracterizado por baixas temperaturas com presença do frio e geada durante o inverno e verões quentes. A principal diferença está associada à neve, que é verificada raramente no Sul do Brasil e nos territórios ao norte do rio Taquari.
Outra semelhança socioeconômica vivenciada pelos imigrantes italianos e descendentes é o autoconsumo e venda da produção de milho e uva. A principal espécie de uva cultivada, a Isabela, era destinada ao consumo familiar de vinho e vinagre. As plantações de uva se adaptaram muito bem ao clima no Vale do Taquari (principalmente as do tipo Isabel) e à altitude de até 900 m.
Perspectiva da história ambiental
O trabalho da pesquisadora inova ao abordar a ocupação do território do Vale do Taquari, em termos históricos, sob a perspectiva da história ambiental, ou seja, situando a expansão das atividades humanas no espaço em relação aos fatores ambientais. Por se tratar de uma pesquisa que abordou aspectos históricos e climáticos com metodologia de bibliografias, pesquisa oral e pesquisa documental, pode ser considerado um estudo inovador na área da história ambiental e regional, explica a doutora.
A abordagem ambiental tem contribuído para o debate ao demonstrar que o ser humano é parte dos ecossistemas, assim como os demais seres vivos, construindo e transformando ambientes. Importa ressaltar que, além do clima, a altitude está presente em ambos os territórios pesquisados, nos quais ocorre a presença de neve, geada ou altas temperaturas. Assim, relacionando o clima como parte da história ambiental, podemos incluir na análise questões mais amplas sobre o meio ambiente, já que os fatores climáticos incidem sobre aspectos bióticos e socioculturais, destaca Janaíne.