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Graduação, Pesquisa

Inventar, tecer e alinhavar: professor da Univates estuda corte e costura como instrumento de promoção do protagonismo feminino durante doutorado

Por Lucas George Wendt

Postado em 06/07/2022 09:58:07


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O professor da Área de Ciências Humanas e Sociais Aplicadas (CHSA) da Universidade do Vale do Taquari - Univates Cristian Leandro Metz recentemente defendeu a sua tese de doutorado pelo Programa de Pós-Graduação em Diversidade Cultural e Inclusão Social da Universidade Feevale. Na investigação, desenvolvida ao longo de quatro anos, Metz estudou os ofícios de corte e costura como instrumento de promoção do protagonismo feminino por meio de oficinas ministradas por ele em 2012 e 2015. Ao fim do estudo, o pesquisador concluiu que os projetos que analisou fortaleceram o protagonismo feminino das mulheres. O trabalho teve orientação das professoras doutoras Margarete Fagundes Nunes e Ana Luiza Carvalho da Rocha. 

Divulgação/Acervo pessoal

Moda como ferramenta de promoção do protagonismo

Inventar, tecer e alinhavar são verbos de ação que estão intimamente ligados às artesanias dos ofícios manuais. Diante desse contexto, a tese relatou a experiência do pesquisador frente às atividades de capacitação e aprimoramento das técnicas para mulheres que buscam a sua promoção e a afirmação do protagonismo feminino. Para tanto foram realizadas três oficinas de práticas laborais ligadas aos ofícios de corte e costura e desenvolvimento de peças de vestuário em duas cidades do estado do Rio Grande do Sul. 

A oficina “Inventando Moda” ocorreu no ano de 2012 no Centro de Vivência Redentora, localizado no bairro Diehl, em Novo Hamburgo/RS, e tinha como eixo condutor do seu trabalho a técnica de customização de peças de vestuário. Uma oficina de feltragem de lã de ovelha foi realizada com as mulheres quilombolas da Comunidade do Rincão da Chirca, em Rosário do Sul/RS, por optarem pelo aprimoramento de técnicas utilizando a lã da ovelha crioula. Já a oficina “Alinhavando Vidas” ocorreu no ano de 2015 no Centro Comunitário Raio de Sol, no bairro Roselândia, em Novo Hamburgo/RS, e tinha como objetivo capacitar mulheres nos ofícios de corte, costura e modelagem de vestuário. A primeira oficina foi realizada enquanto o pesquisador estava em formação no curso de Moda, e as outras duas, enquanto desenvolvia sua dissertação de mestrado. 

Por meio do estudo de trajetórias sociais e narrativas biográficas, Metz apresentou o percurso de mulheres que participaram das oficinas e como as trocas de saberes se efetivaram em suas vidas, bem como situou as instituições envolvidas na promoção dessas atividades. Como a ação foi direcionada às mulheres, o trabalho buscou compreender como a participação e a representação social estimuladas por projetos de ação afirmativa se configuram como instrumentos decisivos de visibilidade, atuando, também, como base para o reconhecimento e o acesso à inclusão social.

Divulgação/Acervo pessoal

“Analiso as formas de organização dessas mulheres, em contexto urbano e rural, realizando uma etnografia multissituada para compreender as implicações das questões de gênero, raça/etnia e classes sociais para a consolidação das relações sociais que se configuram. Além disso, por meio do registro da memória do trabalho das interlocutoras, busco identificar de que forma ocorre a transmissão do saber-fazer enquanto prática geracional e investigo se a participação nas oficinas contribui para a afirmação identitária, auxiliando no enfrentamento das desigualdades sociais”, explica o pesquisador. 

No centro da pesquisa estão essas mulheres que têm em comum tornarem-se protagonistas das histórias de lutas e reivindicações relacionadas à plena cidadania, que buscam estratégias para o enfrentamento das desigualdades sociais a que são submetidas e que visam a aprimorar os seus conhecimentos nas artes do fazer, tanto no ofício de costureiras como na realização de atividades artesanais para comercialização. 

“Nos três grupos atendidos operam-se relações sociais coletivas em um mesmo espaço. E essas relações sociais evidenciam a existência de redes de cooperação e solidariedade entre as mulheres participantes dos projetos”, detalha Metz. 

A questão de gênero é um conceito que perpassa toda a construção da tese a partir da construção da sociabilidade com as mulheres atendidas pelos projetos e pela forma como acessam seus direitos. “Nesse sentido, coube tratar da questão de gênero não só como um problema ético e de equidade, mas abordar o empoderamento feminino como um processo a ser estimulado para mudar essas percepções, permitindo um equilíbrio diferente nas relações sociais entre homens e mulheres”, conjectura o pesquisador. 

Metz faz a defesa de que o empoderamento não é um processo individual, mas, sim, coletivo. Ele percebe empoderamento como algo centrado na cooperação coletiva de busca por questionar relações de poder historicamente impostas, pela dimensão coletiva ou individual da consciência, no aumento da autoestima, não só individual, mas também coletiva, por meio da participação em movimentos populares e nas organizações, que devem revisar suas estruturas e procedimentos, se desejam apoiar o empoderamento. “Se as instituições não forem alteradas para refletir e representar os interesses das mulheres, o objetivo da igualdade de gênero será dificilmente alcançado”, complementa. 

“As oficinas nas quais trabalhei e que serviram de base para a escrita deste trabalho se apresentaram como espaços de trocas de saberes e de reconhecimento de saberes tradicionais que permanecem impregnados nas memórias de todas as mulheres, sem exceção. A partir do relato delas, consegui perceber de que forma esses momentos foram importantes para suas vidas e como esses saberes reverberam, ainda hoje, nos seus fazeres”.  

Enquanto pesquisador, Metz deseja continuar trabalhando com estes temas, trazendo a área da Moda para o debate social e inserindo esta área de conhecimento também em suas pesquisas. “É perceptível como as oficinas de práticas laborais e aprimoramento de técnicas promoveram o protagonismo das mulheres, seja na forma como se beneficiaram com os projetos, na continuidade das relações sociais que foram estabelecidas e que seguiram posteriormente, seja no que se refere às práticas sociais direcionadas à cidadania, por meio da geração de renda com a produção e comercialização dos produtos criados”.  

“Desejo que o trabalho apresentado aqui ressoe como uma provocação para que continuemos a pensar a inclusão social como um direito comum a todas as mulheres, homens e crianças. Que as ações afirmativas sejam efetivas para todos e todas que delas necessitem e que a luta pelo enfrentamento das desigualdades sociais seja a bandeira que empunhamos por uma sociedade mais justa”, finaliza o docente.

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