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Estudo arqueológico amplia a compreensão do passado da região por meio da análise das fazendas ao longo do rio Taquari

Postado as 04/07/2022 13:10:50

Por Lucas George Wendt

Os professores da Universidade do Vale do Taquari - Univates Sérgio Nunes Lopes e Neli Teresinha Galarce Machado publicaram, recentemente, um estudo que analisa as fazendas do século XVII e XIX ao longo do rio Taquari sob o prisma arqueológico. A pesquisa em questão deriva de uma tese de doutoramento defendida no Programa de Pós-graduação em Ambiente e Desenvolvimento (PPGAD) da Univates, de autoria de Lopes e orientada por Neli Machado. 

Divulgação/Labarq/MCN/Univates

Composição comparativa

Composição comparativa



O estudo investigou os impactos sociais e ambientais das primeiras fazendas concebidas no percurso do rio Taquari. A tese intitula-se “Impactos sociais e ambientais produzidos pelo ciclo das fazendas no percurso do rio Taquari/Rio Grande do Sul (1770-1850): uma abordagem arqueológica” e está disponível na Biblioteca Virtual da Univates neste link

A principal conclusão é que a construção de fazendas para extração de recursos vegetais e minerais alterou de forma importante a paisagem e a topografia da região do Vale do Taquari. 

Localização das fazendas

Divulgação/Labarq/MCN/Univates

Os locais escavados foram: 

Fazenda Espanhola - Linha Beira do Rio - Bom Retiro do Sul;

Fazenda Pedreira - em localidade do mesmo nome em Bom Retiro do Sul;

Fazenda Pinhal - em localidade do mesmo nome em Bom Retiro do Sul;

Fazenda Conceição - em Fazenda Vilanova às margens da BR 386, na localidade de Conceição. 

Divulgação/Univates

Sérgio Nunes Lopes

Sérgio Nunes Lopes

Descobertas

“A cultura material encontrada nos sítios arqueológicos pesquisados são documentos que complementam as informações sobre as relações socioambientais no percurso do rio Taquari”, explica Lopes. Metodologicamente o estudo mobilizou um conjunto de técnicas das áreas da Arqueologia Histórica e da História Ambiental. 

A pesquisa surgiu com o intuito de delinear qual era a configuração das fazendas do percurso do rio Taquari. Na historiografia brasileira há muitos estudos sobre essas unidades de produção vinculadas aos ciclos do açúcar, do café ou da criação de gado. “O que o estudo revelou foi que as fazendas pesquisadas tinham como atividade destacada a extração. Matos de pinheiros densos tombaram e foram parcialmente falquejados nessas estruturas”, detalha Lopes.

“Não há registros na literatura de edificações criadas com esse fim. Isso confere diferencial ao estudo e aponta para alterações significativas na paisagem regional ao longo dos últimos dois séculos e meio”, revela o pesquisador.

As escavações arqueológicas realizadas pelos pesquisadores trouxeram à tona um conjunto de fontes inéditas sobre a disposição desses elementos em unidades espaciais configuradas do final do século XVIII até meados do século XIX. O estudo considerou ações mútuas entre entidades humanas e não humanas no espaço e no tempo. Essa abordagem permitiu alargar as análises concebendo as quatro fazendas abordadas na pesquisa para além das suas funções enquanto unidades produtivas. 

“O estudo trata de um aspecto do período colonial do Brasil em âmbito local”

“A grande novidade do estudo é a constatação do impacto ambiental com a supressão das matas de pinheiro, mas também há o impacto social, pois nas fazendas pesquisadas os inventários apontam um número significativo de africanos e afro-brasileiros trabalhando sob regime de escravidão. Ou seja, este estudo trata de um aspecto do período colonial do Brasil em âmbito local”, esclarece o pesquisador. 

Cruzando as informações oriundas de documentações esparsas, revisão bibliográfica, e lendo-se a paisagem e a cultura material, também foi possível traçar um perfil do período que marca a transição da condição jurídica do lugar. As sesmarias onde se situam as fazendas foram doadas no final do período colonial, quando o território que hoje é o Brasil ainda pertencia a Portugal. 

Nessas terras a principal atividade econômica foi a extração vegetal. Essa forma de relação espacial reconfigurou a paisagem local e manteve a estrutura escravocrata e elitista assentada sobre os latifúndios doados ao Sul. A supressão da vegetação e o represamento de cursos d’água testemunham os impactos ambientais. Já as relações de poder do sistema escravista delineiam os impactos sociais.

Divulgação/Labarq/MCN/Univates

Divulgação/Labarq/MCN/Univates

Divulgação/Labarq/MCN/Univates

Divulgação/Labarq/MCN/Univates

Divulgação/Labarq/MCN/Univates

Divulgação/Labarq/MCN/Univates

Impactos do estudo 

A principal conclusão é que a construção de fazendas para extração de recursos vegetais e minerais alterou de forma importante a paisagem e a topografia da região do Vale do Taquari. Os impactos ambientais se fazem sentir ainda na contemporaneidade, que deu continuidade à alteração dos espaços. 

Outra implicação no que tange aos resultados é a perspectiva de que, muito antes da vinda dos imigrantes ítalo-germânicos no século XIX, a coroa portuguesa já tinha um projeto de exploração para este espaço, conforme é possível visualizar na análise de um documento de autoridades portuguesas que vistoriam a vegetação da região estudada na intenção de incorporá-la como provedora de matéria prima para a indústria náutica. “Tudo isso feito com mão de obra escravizada”, completa Lopes. 

Diversos são os aspectos que conferem importância e relevância a estudos desse tipo. “Entre eles destacamos: na historiografia regional se tem muita pesquisa a partir da vinda dos imigrantes ítalo-germânicos para a região e uma negligência, por uma série de fatores, com períodos históricos anteriores. Este estudo lança luzes sobre esses períodos negligenciados”, esclarece o pesquisador. Por tratar-se de uma pesquisa que aborda interdisciplinarmente o objeto de estudo, efetiva-se a partir de uma das linhas de pesquisa do Programa de Pós-Graduação em Ambiente e Desenvolvimento, é um programa interdisciplinar que utiliza referenciais teóricos das Ciências Ambientais.

 “A pesquisa também trata de questões socioambientais de forma a não trazer os demais elementos da paisagem desprovidos de vontade. Busca-se, a partir dos suportes teóricos da Arqueologia Histórica e da História Ambiental, perceber que há uma agência nos outros elementos e não apenas naquilo que a espécie humana elucubra sobre o que fazer nos espaços”, assegura Lopes.

Produtos da pesquisa

Como o professor também atua na extensão acadêmica, os resultados do estudo embasam a produção de material didático para esse fim, sobretudo em projetos de extensão como o “Arqueólogo por um dia: Ações de Educação Patrimonial” e “Naturalista por um dia”.

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