Um estudo desenvolvido pela diplomada no curso de Ciências Biológicas da Universidade do Vale do Taquari - Univates Camila Griebeler e pela professora Liana Johann, do Programa de Pós-Graduação em Sistemas Ambientais Sustentáveis (PPGSAS), analisou a percepção de estudantes de Teutônia, no Vale do Taquari, sobre os morcegos. O estudo foi publicado na Revista Brasileira de Educação Ambiental (RevBEA) e foi parte do Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) de Camila.
Rodeados de crenças e mitos populares que ignoram o conhecimento científico sobre a sua morfologia, ciclo de vida, hábitos alimentares e nichos ecológicos, os morcegos são vistos como animais que não possuem visão e se alimentam de sangue. O trabalho desenvolvido por Camila teve por objetivo avaliar o conhecimento de alunos do Ensino Fundamental de escolas públicas de zonas rural e urbana de Teutônia sobre a fauna de morcegos, além de verificar, por meio de uma intervenção, a importância da educação ambiental no contexto da desmistificação desses animais. A pesquisa envolveu duas escolas, a da área rural com uma turma de 17 alunos e a da área urbana com uma turma de 16 alunos.
A pesquisa constatou que a maioria dos alunos, das duas áreas, nunca aprendeu sobre morcegos, o que justifica seus mitos e crenças relacionados a esse tipo de mamífero. É perceptível que grande parte dos alunos tinha medo dos morcegos por não conhecer sua importância no meio ambiente, apresentando informações falsas. As atividades de educação ambiental são fundamentais pois, em ambas as áreas, desmistificaram e acabaram com grande parte do preconceito gerado sobre essa ordem animal, destaca a diplomada.
As funções ecológicas dos morcegos são importantes, conforme descreve a literatura científica, pois eles são controladores de diversas espécies de invertebrados e vertebrados, são dispersores de sementes e polinizadores de plantas. Muitas pessoas nunca aprenderam sobre morcegos ou não se questionaram se os mitos e as crenças são verdadeiros ou não. Por consequência, morcegos são mortos ou deslocados de seus abrigos, podendo ocorrer, em longo prazo, a extinção de espécies, gerando desequilíbrio ecológico.
A educação ambiental ocorreu no formato de aula teórica e prática, com apresentação de slides, destacando aspectos da morfologia, ecolocalização, hábitos alimentares, mitos e crenças, cuidados, abrigos e forma de vida dos morcegos. Também foram utilizados materiais zoológicos de vias seca e líquida de Chiroptera (morcegos), Rodentia (rato) e Apodiformes (beija-flor), disponibilizados pelo Museu de Ciências Univates.
Os indivíduos de roedor e de ave foram utilizados para mostrar aos alunos as diferenças entre as aves, os ratos e os morcegos. Na atividade prática, os alunos também puderam conhecer e observar as diferenças entre cada espécie de morcego, devido ao seu hábito alimentar e suas principais adaptações para o meio em que vivem. Foi disponibilizado para visualização um indivíduo de cada hábito alimentar, pertencente à região em que os alunos estão inseridos, explica Camila.
Por esse motivo, a educação ambiental é fundamental não só nas escolas, mas em toda a comunidade. As pessoas precisam conhecer e entender as funções ecológicas, hábitos alimentares e a morfologia dos morcegos, para, assim, compreender sua importância na natureza e os benefícios que a presença deles traz. A educação ambiental é extremamente necessária como forma de amenizar e diminuir esses impactos, relata a diplomada.
Resultados
Conforme avaliação realizada, o medo e as informações incorretas sobre os morcegos foram reduzidos após a atividade de educação ambiental, demonstrando que a percepção dos alunos foi modificada positivamente. Conclui-se que as atividades de educação ambiental são eficientes na quebra de preconceitos e mitos impostos pela sociedade. A falta de informação é algo preocupante, já que em alguns casos pode até ocasionar a morte dos morcegos. Os conhecimentos adquiridos provavelmente serão repassados pelos alunos para as pessoas mais próximas, como familiares e amigos, desmistificando crenças antigas e provocando um novo olhar a esse grupo animal.
Saiba mais sobre os morcegos no Vale do Taquari
Como o segundo maior grupo de mamíferos, os morcegos correspondem a mais de 1.300 espécies, distribuídas em várias partes do mundo, conforme a literatura científica da área. No Brasil, de acordo com a bibliografia científica, existe o total de 178 espécies, 68 gêneros e nove famílias. A fauna de morcegos do Rio Grande do Sul é constituída por 40 espécies e quatro famílias. No Vale do Taquari foram observadas em torno de 20 espécies de morcegos pertencentes às quatro famílias que são encontradas no RS, tanto nas áreas urbanas quanto nas rurais. Quanto aos hábitos alimentares das espécies encontradas no Vale do Taquari, Noctilio leporinus é uma espécie que apresenta hábito alimentar piscívoro. Chrotopterus auritus é carnívoro. Desmodus rotundus é hematófago. Artibeus lituratus, Artibeus fimbriatus e Sturnira lilium são frugívoros. Glossophaga commissarisi é especializado no consumo de pólen e néctar. As outras espécies são insetívoras, como: Molossus molossus, Molossus rufus e Tadarida brasiliensis.