Anunciado em 2021, com atividades tendo iniciado em setembro do último ano, o Ambulatório de Reabilitação Pós-Covid-19 da Universidade do Vale do Taquari - Univates presta contribuições à reabilitação da população acometida pela Covid-19 na região do Vale do Taquari. A iniciativa é do curso de Fisioterapia da Univates. Para a manutenção de suas atividades, além de investimento da Univates, o espaço também já recebeu investimentos do Sicredi Integração RS/MG e do Instituto BRF (IBRF).
Centenas de atendimentos já foram realizados pela equipe da Univates a casos que buscam lançar o olhar para pacientes que tiveram complicações decorrentes da Covid-19 e que estejam em período de reabilitação com necessidade de assistência em nível ambulatorial. São atendidos homens e mulheres de todas as idades com diagnóstico prévio de covid-19, com ou sem internação hospitalar, em período de reabilitação pós-covid-19.
A continuidade do atendimento de fisioterapia me anima pois me beneficia bastante"
Carlito Heuser, de 69 anos, de Mato Leitão, foi atendido no Ambulatório Pós-Covid da Universidade. Ele teve Covid-19 em janeiro de 2021. Seu caso se agravou e ele passou um longo período hospitalizado. "Meus sintomas iniciais foram dor de cabeça, vômito, febre e falta de ar", recorda. Ao longo do processo, ele acabou contraindo bactérias no pulmão, no rim, na bexiga e no intestino grosso.
Em setembro de 2021, após a alta do hospital, ele passou a frequentar o Ambulatório da Univates. "Com o tempo, sinto que estou melhorando. Acho que estou recuperado em cerca de 70%", indica ele. Heuser ainda frequenta o serviço e teve perdas na capacidade respiratória, com falta de ar, e também na musculatura. "Essas são as sequelas com as quais eu tenho que lidar e aquilo que estamos tentando recuperar aos poucos com os exercícios. É bastante difícil, mas estou persistindo. Ainda não estou 100% recuperado, mas a continuidade do atendimento de fisioterapia me anima pois me beneficia bastante", complementa ele.
Considero ter sido fundamental esse processo no Ambulatório para minha recuperação
Um dos atendimentos realizados de maneira mais intensa foi do administrador de empresas Luciano Metz, de Lajeado, que, no momento, ainda se recupera de um caso grave de Covid-19. Ele tem 57 anos e teve Covid-19 no fim de maio de 2021. Tive uma leve e permanente dor de cabeça; depois um pouco de tosse seca e, após a primeira semana, comecei a sentir falta de ar, recorda ele. A sua situação se agravou. No 11º dia dos sintomas, baixei o hospital e logo minha falta de ar piorou. Cheguei a sofrer dois pneumotórax e acabei com um único pulmão funcionando e comprometido em 85%, por um tempo. Não tinha fôlego para dizer duas palavras seguidas.
O pneumotórax, agravo que aconteceu com Metz, acontece quando há a presença de ar livre na cavidade pleural (membrana interna do tórax), ou seja, o ar entra no peito e o pulmão falha, invertendo o processo natural, no qual o ar deveria estar dentro do pulmão. Assim, quando ele escapa, vai para o espaço pleural, cria pressão e colapsa os pulmões. Devido ao pneumotórax inicial, a internação de Metz durou 90 dias, período de máxima debilidade e comprometimento geral do organismo. Uma vez que meu pulmão voltou a funcionar, retornei para casa, mas, após 17 dias, tive outro pneumotórax, no mesmo pulmão, e retornei ao hospital para realizar uma cirurgia corretiva, conta Metz.
A situação, naquela ocasião, já era complexa e se agravou ainda mais. Nessa internação acabei vitimado por uma colite grave, que me debilitou ainda mais e prolongou minha internação por um mês. Hoje sinto falta de ar sempre que realizo tarefas de maior intensidade, e minha força muscular ainda não está plenamente restabelecida.
Nesse processo de recuperação, Metz contou com o suporte dos professores e estudantes do curso de Fisioterapia da Univates, por meio do Ambulatório de Reabilitação Pós-Covid-19. Considero ter sido fundamental esse processo no Ambulatório para minha recuperação. Sempre senti muita confiança nas orientações que recebi e muita segurança ao realizar todos os exercícios, diz ele. O acompanhamento de Luciano na Univates envolveu a realização de um programa de exercícios respiratórios, aeróbios e exercícios de resistência para fortalecimento dos membros inferiores e superiores. Para incremento da funcionalidade, o programa implementa exercícios para equilíbrio e coordenação motora, de forma a facilitar a execução das atividades de vida diária.
O programa de reabilitação possibilita ressignificar o contexto de vida
A professora Tania Cristina Malezan Fleig atua como supervisora dos atendimentos. Juntamente com ela, no caso do Metz, atuaram as estudantes Rafaela Bruxel Moesch, Brenda Salvadori Beleboni e Gabriela Cristine Auler, além do professor Lucas Capalonga. A docente explica que o programa assiste a pessoa na sua integralidade. (...) através da escuta ativa, possibilita conhecer as percepções do paciente frente ao seu estado de saúde, processo de reabilitação e reintegração ao meio social e profissional, indica ela.
A docente explica que, quando chegou ao Ambulatório, Metz apresentava fraqueza muscular, sem capacidade para manter-se nas atividades do cotidiano, e também tinha dificuldades para transferir-se de posição ou levantar-se sem apoio. Quanto ao estado clínico, apresentava significativa falta de ar aos pequenos esforços, fadigando sempre que exigido para realizar os exercícios do programa.
Na evolução do programa, após 18 semanas de atendimento, com a frequência de duas vezes por semana, ela indica que pôde ser constatada a melhora significativa do quadro clínico e funcional de Metz. A partir dos dados obtidos na reavaliação, evidenciou-se o aumento da força muscular respiratória e da resistência à fadiga aos esforços. Outro dado relevante é a importante melhora da força muscular periférica, potencializando o retorno ao trabalho e facilitando a participação em atividades simples e complexas do cotidiano, complementa ela.
A equipe que esteve envolvida com os atendimentos de Luciano considera satisfatório conhecer o potencial humano no processo de reabilitação, diante da confiança e do vínculo estabelecidos ao longo dos últimos meses. O programa de reabilitação possibilitou ressignificar o contexto de vida, a condição de saúde e a potência pessoal para engajar-se em objetivos sólidos neste difícil processo de viver pós-Covid.