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Institucional

Professor da Univates comenta a crise diplomática na Ucrânia

Por Mateus Dalmáz

Postado em 18/02/2022 09:29:46


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A crise da Ucrânia muito tem a ver com a diminuição de poder da Rússia nas Relações Internacionais. Durante a Guerra Fria, Estados Unidos e União Soviética eram tidos como superpotências, pois reuniam três requisitos básicos: poder econômico, poder militar e aliados. O esfacelamento soviético no início dos anos 1990 resultou de problemas econômicos que persistem até hoje, fazendo com que a Rússia deixasse de ser uma superpotência. Desde aquela década, os governos russos, primeiro com Boris Yeltsin, depois com Vladmir Putin, tentam retomar o crescimento econômico e recuperar o “status” de superpotência. Para isso, tem sido importante para a Rússia manter os ex-integrantes da União Soviética sob a esfera de influência política, econômica e militar de Moscou. Entre os Estados que formaram a União Soviética está a Ucrânia, país historicamente dependente do gás natural e do petróleo russo. 

Nicole Morás

Professor Mateus Dalmáz

Professor Mateus Dalmáz

No início da década de 2010, a Ucrânia foi seduzida pelo convite da União Europeia para integrar o bloco europeu, o que faria com que Kiev migrasse da esfera de influência russa para a Europa central. A reação de Putin, em 2014, foi pressionar o governo ucraniano a não ingressar na União Europeia. Como forma de coerção, promoveu a ocupação militar da região da Crimeia, no leste da Ucrânia, onde a maioria da população compartilha valores culturais com a Rússia. Naquela ocasião, tanto a União Europeia quanto os Estados Unidos repudiaram diplomaticamente a ocupação da Crimeia, onde tropas russas estão estacionadas nos últimos oito anos. O governo ucraniano, então, recuou na aproximação ao bloco europeu.   

Em 2022, houve um convite para que a Ucrânia passasse a integrar a Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), o que permitiria ações militares da organização em território ucraniano. Tal investida do Ocidente na Ucrânia gerou nova reação de Putin, que movimentou tropas na fronteira com a Ucrânia, o que se constituiu em mais uma demonstração de força e de coerção da Rússia perante o ex-integrante da União Soviética. Para a Rússia, o ingresso da Ucrânia na Otan significaria redução de poder no leste europeu, além de distanciamento econômico com um tradicional aliado, algo que frustraria os planos de retomada do “status” de superpotência. Para a União Europeia e os Estados Unidos, por sua vez, a atração da Ucrânia para o Ocidente significaria ampliação de poder econômico, militar e político no leste europeu. 

A possibilidade de conflito armado entre as grandes potências em função da crise na Ucrânia é bastante reduzida, pois, nesse momento, não há interesse por parte dos Estados Unidos, da União Europeia, da Rússia e da China (que tem revelado discreto apoio à Rússia) em despender recursos em uma guerra, já que o impacto econômico seria negativo e, particularmente para Rússia e China, ainda haveria o risco de debandada de aliados no Ocidente. Com as manobras militares, Putin coage a Ucrânia de se aproximar do Ocidente; com a retórica anti-invasão militar, Estados Unidos e União Europeia fixam os limites da movimentação russa; com o apoio moderado à Rússia, a China se posiciona internacionalmente como antagonista dos Estados Unidos. A trama política, assim, segue rolando muito mais no âmbito diplomático do que no militar. 

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