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Pesquisa

Pesquisa do PPGAD da Univates analisa a escravidão negra no Vale do Taquari nos séculos 18 e 19

Por Kástenes Casali

Postado em 04/11/2021 13:38:14


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Embora pouco historicizado, retratar o passado dos municípios do Vale do Taquari e a influência da escravidão negra na região, durante os séculos 18 e 19, é possível por meio de fontes documentais analisadas sob o olhar de historiadores munidos de ferramentas da historiografia moderna. 

Com a descrição desses registros, em conjunto com o Programa de Pós-Graduação em Ambiente e Desenvolvimento (PPGAD) e o Programa de Pós-Graduação em Ensino (PPGEnsino) da Universidade do Vale do Taquari - Univates, recentemente foi publicada uma pesquisa na edição nº 27 da revista eletrônica Tecnologia e Ambiente. O estudo busca analisar a história negra de pessoas que foram escravizadas no município de Taquari durante os séculos 18 e 19.    

A pesquisa “Fontes documentais da história negra em Taquari, Rio Grande do Sul”, realizada pela doutora Karen Daniela Pires, sob orientação da professora doutora Neli Galarce Machado, analisou notícias do jornal O Taquaryense, as cartas de liberdade, os contratos de compra e venda de escravizados, os inventários e os processos-crime no período de 1857 a 1890.

Divulgação/Univates

Mapa da região à época

Mapa da região que atualmente compreende o Vale do Taquari à época

A pesquisa “Fontes documentais da história negra em Taquari, Rio Grande do Sul”, realizada pela doutora Karen Daniela Pires, sob orientação da professora doutora Neli Galarce Machado, analisou notícias do jornal O Taquaryense, as cartas de liberdade, os contratos de compra e venda de escravizados, os inventários e os processos-crime no período de 1857 a 1890.

Na pesquisa, Karen apresenta a história da mão de obra escrava africana e crioula no município de Taquari, que antigamente abrangia praticamente todas as cidades do Vale do Taquari. As atividades desempenhadas por esse grupo étnico foram identificadas principalmente nos setores da marinha, isto é, nos trabalhos de navegação nos portos e rios, nos serviços domésticos e no trabalho na agricultura. Conforme Karen, o estudo apresenta uma divergência em relação ao que foi escrito anteriormente por memorialistas locais. “Memorialistas regionais apresentaram poucas e superficiais informações a respeito da escravidão na região, de certa forma relatando que aqui a escravização foi amena. Porém, com o avanço das pesquisas científicas, um outro cenário é desvendado e coloca o território da antiga Taquari em pé de igualdade com outras regiões também escravagistas do País”, afirma.  

De acordo com a pesquisadora, a região do Vale do Taquari precisa conhecer esse passado silenciado. Os estudos revelam que a escravidão na antiga Taquari teve centenas de pessoas escravizadas. Esse passado se reflete na discriminação, nos preconceitos e no racismo que as pessoas negras hoje sofrem nos municípios da região. “O passado de escravismo reflete muito na história atual. Há comunidades quilombolas na região que praticam costumes de seus antepassados. Temos no cotidiano a culinária e o vocabulário negro, que chegaram aqui por intermédio das pessoas escravizadas trazidas da África”, explica Karen. 

Segundo Neli, a história e as fontes documentais do século 19 foram pouco estudadas em razão do desinteresse em retratar narrativas de personagens regionais, uma vez que a história do Vale do Taquari é contada principalmente sob a ótica de portugueses, alemães e italianos. “A ideia não é só estudar a presença das pessoas negras sob a condição do trabalho escravizado e a vida de escravizados, mas entender a historicidade e identidade negra nas perspectivas do multiculturalismo e diversidade cultural e das matrizes culturais e raciais”, conta.

Importância do estudo

Para Karen, o estudo contribui para a luta e a reivindicação de reconhecimento das comunidades quilombolas do Vale do Taquari. Com a pesquisa, essas comunidades passam a ter ferramentas de afirmação no reconhecimento de sua historicidade e territorialidade, pois o estudo revela uma narrativa na perspectiva de descendentes de escravizados que chegaram à região, trazidos pelos portugueses, nos séculos 18 e 19.

Conforme Neli, estudar a história negra nesse período, numa região tradicionalmente conhecida pela cultura “branca”, é um grande desafio para os pesquisadores da área da História. “Investigar os movimentos e as dinâmicas históricas dos grupos de pessoas negras na região do Vale do Taquari levanta questões importantes para a formação étnica e cidadã dos brasileiros”, reafirma.

Divulgação/Univates

Páginas de O Taquaryense

Páginas de O Taquaryense

Jornal O Taquaryense

A análise das notícias do jornal O Taquaryense publicadas nos anos de 1887, 1888, 1889 e 1890 possibilitou verificar o contexto da escravidão em Taquari, Estrela e Santo Amaro e, em especial, a abolição da escravatura. Constatou-se que o jornal noticiou e expôs seu posicionamento favorável à abolição dos escravizados, com matérias sobre a concessão de cartas de liberdade, discursos abolicionistas, formação de comissões abolicionistas, contratos de locação de serviços, telegramas e boletins.

Documentos de compra e venda

Utilizadas na pesquisa, a compra e a venda de escravos registradas em documentos históricos fornecem informações como a identificação do escravo, a situação civil, cor e idade, valores, os nomes dos vendedores e dos compradores. 

Cartas de liberdade

As cartas de liberdade demonstram as concessões de alforria. Verificou-se um maior número de cartas condicionais concedidas, ou seja, aquela que o escravizado recebia de seu senhor, mas ficava trabalhando para ele por mais três a sete anos e, em alguns casos, até a morte de seu proprietário ou tinha que acompanhar algum familiar de seu dono também até que este morresse.

Inventários

Os inventários referem-se ao escravizado deixado como herança, com dados sobre as condições físicas e de saúde dele. Pôde-se identificar os nomes dos escravizados e de seus senhores, a idade e o valor daqueles. Em específico nessa fonte levantou-se a quantidade de escravizados deixados como herança pelos senhores dos três municípios.

Processo-crime 

Nos documentos denominados “processo-crime” verificou-se o envolvimento dos escravizados em situações de insurreição e conflitos entre escravizados e seus donos.

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