As mudanças climáticas têm escalonado a níveis preocupantes no mundo, trazendo mais insegurança alimentar ao planeta. Na África, Madagascar já é o primeiro país do mundo a enfrentar fome causada pelo aquecimento global, segundo alertou a Organização das Nações Unidas (ONU) em agosto. Na terça-feira (21), às 16h, um simpósio da Academia Brasileira de Ciências (ABC) vai apresentar contribuições de cientistas brasileiros que vão desde o aprimoramento do mecanismo de defesa das plantas à popularização do consumo das Plantas Alimentícias Não Convencionais, as PANCs.
O encontro, que será transmitido no YouTube da ABC, vai mostrar como brasileiros lideram algumas das principais pesquisas inovadoras das ciências biológicas no mundo, que têm trabalhado para aumentar a produtividade da agricultura e torná-la mais sustentável, integrando-a à economia circular e garantindo a segurança alimentar.
O simpósio contará com a participação de quatro jovens acadêmicos da ABC na área de ciências biológicas: Felipe Klein Ricachenevsky, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS); Mario Tyago Murakami, do Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais (LNBR/CNPEM); Patrícia Muniz de Medeiros da Universidade Federal do Alagoas (Ufal); e Raul Antonio Sperotto, pesquisador do Programa de Pós-Graduação em Biotecnologia da da Universidade do Vale do Taquari (Univates).
No encontro, eles apresentarão pesquisas que conduzem sobre o tema. A de Raul Sperotto procura alternativas sustentáveis para problemas de produtividade agrícola. Para isso, ele estuda a resposta das plantas a fatores de estresse ambiental e biótico, como baixa temperatura e infestação de ácaros. Uma das estratégias encontradas pelo pesquisador foi utilizar bactérias do solo para aumentar a defesa de grãos como arroz e feijão. Inoculando estas bactérias do solo, conseguimos respostas que só teríamos com produtos químicos, e podemos substituir os fertilizantes, explica.
Alimento que compõe a mesa da maioria das famílias brasileiras, o arroz também é tema da pesquisa de Felipe Ricachenevsky, que está desenvolvendo uma linhagem de grãos desse cereal com maiores índices de ferro e zinco. Em um contexto onde uma em cada três crianças sofre de anemia no Brasil, como apontou um levantamento recente da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), aumentar o índice desses nutrientes no alimento é de extrema importância.
Já identificamos que entre alguns parentes selvagens do arroz existem espécies que acumulam mais zinco e ferro no grão. Agora queremos achar uma maneira de entender esse mecanismo e colocar no arroz que a gente consome, relata.
Com proteínas, vitaminas essenciais, antioxidantes, fibras e sais minerais; as chamadas PANCs têm enorme potencial alimentício, mas ainda enfrentam resistência na sociedade. Patrícia Medeiros trabalha, há três anos, em um protocolo interdisciplinar com o objetivo de ampliar o consumo desse grupo de alimentos no Brasil. No simpósio, ela vai apresentar os andamentos do trabalho.
Buscamos indicar espécies com forte potencial de consumo, estudar o perfil socioeconômico mais propenso a se tornar consumidor e até mesmo se o nome PANCs impacta negativamente na percepção das pessoas, conta.
Mario Tyago Murakami lidera programas interdisciplinares voltados para a solução de problemas estratégicos do país nas áreas de bioenergia e biorrenováveis, com foco em biologia sintética e biocatálise. Em sua apresentação, ele vai falar sobre a biologia sintética como tecnologia habilitadora de uma economia circular sustentável. O simpósio será coordenado pelo diretor da ABC, Elibio Rech (Embrapa). Os pesquisadores e afiliados da ABC Rafael Vasconcelos Ribeiro (Unicamp) e Thiago Motta Venâncio (UENF) também participam como debatedores.
As inscrições são gratuitas e podem ser feitas neste link.
Participantes:
Raul Antonio Sperotto (Univates)
Estratégias biotecnológicas visando a garantia da segurança alimentar
Professor permanente do Programa de Pós-Graduação em Biotecnologia da Universidade do Vale do Taquari (Univates). Doutorado em biologia celular e molecular pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Atua principalmente com respostas de plantas a estresses abióticos e bióticos, biotecnologia vegetal e segurança alimentar sob condições não-ótimas.
Felipe Klein Ricachenevsky (UFRGS)
O ionoma das plantas auxiliando no aumento da segurança alimentar e qualidade nutricional
Professor adjunto do Departamento de Botânica e do Programa de Pós-Graduação em Biologia Celular e Molecular da UFRGS. Doutor em biologia celular e molecular pela UFRGS. Foi grantee do Instituto Serrapilheira (2017). Atua na compreensão do ionoma das plantas para biofortificação e aumento de eficiência no uso de nutrientes.
Mario Tyago Murakami (LNBR/CNPEM)
Biologia sintética como tecnologia habilitadora de uma economia circular sustentável
Diretor científico do Laboratório Nacional de Biorrenováveis (LNBR). Doutor em biofísica molecular pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (Unesp) e livre docente em biotecnologia pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Atualmente lidera programas interdisciplinares voltados a solucionar problemas estratégicos do país nas áreas de bioenergia e biorrenováveis, com foco em biologia sintética e biocatálise.
Patrícia Muniz de Medeiros (Ufal)
Contribuições para a popularização de plantas alimentícias não convencionais (PANC)
Professora adjunta da Universidade Federal de Alagoas (Ufal). Atua no estudo de aspectos cognitivos e comportamentais dos seres humanos em relação à natureza. Vencedora do prêmio International Rising Talents da LOréal-Unesco 2020 e do prêmio LOréal-Unesco-ABC Para Mulheres na Ciência 2019.