Após finalizar as fases de testagem e validação dos testes rápidos, o Testa Lajeado, pesquisa realizada entre os meses de maio e junho com o objetivo de analisar, por meio de amostragem probabilística, a prevalência do coronavírus no município do Vale do Taquari, publicou os resultados principais do estudo na revista International Journal of Infectious Diseases.
A pesquisa foi uma iniciativa da Prefeitura Municipal de Lajeado, sendo realizada pela Universidade do Vale do Taquari - Univates. De acordo com o coordenador científico da pesquisa e primeiro autor do artigo, professor Rafael Picon, o artigo é resultado do esforço coletivo da pesquisa. Além da Secretaria Municipal da Saúde de Lajeado, ainda contamos com o apoio do Laboratório de Análises Clínicas da Univates (LAC), que executou os testes de PCR necessários para o estudo. Diferente de muitas pesquisas que estão sendo feitas no mundo todo, não nos restringimos a apenas teste rápido sorológico. Isso aumenta a fidedignidade da nossa estimativa de prevalência, destaca.
A publicação está disponível no site da revista americana, podendo ser conferida em bit.ly/artigotesta.
Resultados apresentados no artigo
Para avaliar a prevalência com base na população, fatores de risco, hospitalização e letalidade (risco de morrer uma vez infectado) associados à Covid-19, o Testa Lajeado realizou duas pesquisas domiciliares entre a população adulta no período de 30 de maio a 17 de junho deste ano. Além disso, a pesquisa avaliou o número de hospitalizações e óbitos ocorridos entre lajeadenses adultos até o dia 20 de junho de 2020.
Como resultados, o estudo identificou que a prevalência (probabilidade de uma pessoa se infectar) geral de infecção foi de 3,40%, sendo em pessoas acima dos 60 anos a prevalência de 2,26% . Outro ponto abordado no estudo refere-se ao índice de contaminação em pessoas que moram com indivíduos que tiveram a infecção (contactantes domiciliares) e em trabalhadores de frigoríficos. A prevalência de infecção foi 14 vezes maior entre contactantes domiciliares do que em pessoas sem contato domiciliar com infectados e 5 vezes maior entre trabalhadores de frigoríficos comparados àqueles que não trabalham em plantas frigoríficas.
Em relação à letalidade do vírus, o estudo identificou que em adultos de 20 a 39 anos o índice foi de 0,08%, ou seja, a cada 10.000 pessoas com idade entre 20 e 39 anos que contraem a doença, oito vêm a óbito. Já em pessoas acima de 60 anos, os resultados apontaram crescimento, subindo para 4,63%, ou seja, a cada 10.000 idosos que contraem Covid-19, cerca de 463 vêm a óbito. Segundo Picon, devido a algumas variáveis, é muito provável que as estimativas de letalidade estejam superestimadas, conforme foi concluído no artigo.
De acordo com o professor, os resultados obtidos são inéditos e muito importantes para determinar as características do vírus. Este é o primeiro estudo de base populacional no Brasil a estimar a taxa de hospitalizações e letalidade da Covid-19 por faixa etária. Esses achados são de grande valor para a formulação de políticas de saúde e alocação de recursos para mitigar a pandemia, relata.
Por fim, Picon salienta a adaptabilidade da Univates mediante as circunstâncias impostas pela pandemia. Em março, o mundo virou de cabeça para baixo, e a Univates provou estar equipada com uma estrutura e recursos de excelência. Foram várias as iniciativas que surgiram da Universidade, e o andamento da pesquisa é um desses exemplos, reitera o professor.