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Pesquisa, Saúde, Vale do Taquari

Pesquisas da Univates estudam as dinâmicas de gestão e de trabalho em rede do Sistema Único de Saúde (SUS)

Por Lucas George Wendt

Postado em 06/11/2020 10:57:27


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O Grupo de Estudos em Desenvolvimento de Sistemas de Saúde (Gedess) da Universidade do Vale do Taquari - Univates tem como objetivo discutir as tecnologias e processos de gestão e cuidado envolvidos nas dinâmicas do Sistema Único de Saúde (SUS). No projeto, colaboram estudantes de graduação, bolsistas de iniciação científica, mestres e doutores de diversas áreas da saúde da Univates. 

A colaboração interdisciplinar promove o olhar acadêmico sobre problemas do cotidiano em busca de possíveis soluções. A divulgação deste trabalho encontra espaço nos eventos acadêmicos e, especialmente, nos artigos científicos, como os recentemente publicados na revista Saúde em Debate “O Apoio Matricial na qualificação da Atenção Primária à Saúde às pessoas com doenças crônicas” e “Processos de encaminhamento a serviços especializados em cardiologia e endocrinologia pela Atenção Primária à Saúde”. 

O SUS tem como princípios constitucionais a universalidade, a integralidade, a equidade, a descentralização e a participação social. Essas são as bases que garantem à população do Brasil, cerca de 210 milhões de pessoas, um atendimento em rede, da atenção primária a níveis de maior densidade tecnológica. Discutir como o SUS funciona é importante para qualificar o serviço oferecido à população brasileira. 

Lucas George Wendt

O Apoio Matricial em Doenças Crônicas 

O Apoio Matricial problematiza as práticas de saúde e promove a cogestão do cuidado, por meio da partilha dos processos de trabalho entre a equipe de Atenção Primária à Saúde e uma equipe especializada. Espaços dialógicos são construídos a fim de elaborar um projeto terapêutico integrado. 

A problematização do Apoio Matricial em situações de doenças crônicas aconteceu por meio de uma pesquisa com caráter de intervenção realizada pelos autores do estudo. Como resultados, o grupo comprovou, na perspectiva de dois municípios do interior do Rio Grande do Sul, que o Apoio Matricial promoveu a comunicação entre os profissionais e a aproximação entre os membros da equipe, mostrando-se efetivo no empoderamento das equipes de Atenção Primária à Saúde (APS) e impulsionando mudanças nas práticas de gestão e cuidado às pessoas com doenças crônicas. 

O primeiro artigo foi liderado pela professora doutora Cássia Regina Gotler Medeiros. Participaram as professoras doutoras Luísa Scheer Ely Martines, Olinda Maria de Fátima Lechmann Saldanha, Magali Quevedo Grave, Lydia Koetz Jager, mestre Gisele Dhein e pela, na época, estudante de Psicologia Ana Luísa Freitag. 

Rodrigo Balbueno

A Atenção Primária em Saúde e o cuidado especializado 

O segundo estudo tem autoria principal do estudante de Medicina Sérgio Vieira Bernardino Junior, com os professores doutores Cássia Regina Gotler Medeiros, Camila Furtado de Souza, Alessandro Menna Alves, Luís César de Castro e a estudante de Farmácia Jordana Kich. 

O estudo teve como objetivo analisar o encaminhamento de pessoas a serviços de cardiologia e endocrinologia pelos médicos da Atenção Primária à Saúde (APS). Foram realizados questionários com 25 médicos da APS, dois cardiologistas, dois endocrinologistas e um médico regulador. 

O estudo identificou, entre os médicos da APS, que 96% referem que conhecem, 84% que utilizam protocolos de encaminhamento e 92% que encaminham os pacientes para manejo de doenças complicadas que necessitam de avaliação do especialista. No entanto, os especialistas apontam que o principal motivo de encaminhamentos ocorre devido a condições crônicas prevalentes mal controladas na Atenção Primária e que não precisariam ser encaminhados se a APS fosse mais resolutiva. O médico regulador avalia que a maioria dos documentos de encaminhamento é incompleta e não permite verificar a gravidade do problema. 

Os autores concluem que os protocolos de encaminhamento podem não estar sendo utilizados de forma a otimizar os fluxos dos usuários na rede de atenção à saúde, indicando a necessidade de revisão de processos de trabalho, capacitação dos profissionais e melhor articulação entre APS, área de regulação e Atenção Especializada. 

Conforme o estudante de Medicina Sérgio Vieira Bernardino Júnior, pesquisas como as realizadas pelo Gedess têm como objetivo diagnosticar falhas na trajetória assistencial dos usuários do SUS em seus níveis de atenção à saúde, bem como propor medidas de melhorias em educação e treinamento e comunicação entre as estruturas e profissionais de saúde. “A gestão pública implementando estas propostas permitiria o aumento da resolutividade da Atenção Primária em Saúde (APS) devido a uma melhor infraestrutura, acesso a exames diagnósticos e tratamentos; além de encaminhamentos mais adequados dos pacientes da APS à atenção especializada em saúde”.

O resultado direto seria a diminuição das filas de espera por uma consulta com o médico especialista pelos usuários que realmente precisam deste tipo de atendimento. Assim haveria melhorias tanto no cuidado dos pacientes do SUS, que teriam mais diagnósticos e tratamentos precoces, quanto em menos oneração de recursos públicos, com encaminhamentos desnecessários e por complicações de pacientes que não tiveram a assistência preventiva adequada.

Arthur Dullius

A atuação do Gedess

O grupo foi criado em 2013 por iniciativa de docentes da Univates e esteve ativo até 2018. Os artigos publicados posteriormente são resultado do trabalho do grupo ao longo do período de atividades. A líder do Gedess, professora doutora Cássia Regina Gotler Medeiros, observa que, ao longo do trabalho do grupo junto aos municípios e demais pontos da rede de atenção à saúde, o que mais se destaca é a percepção da necessidade de que os profissionais trabalhem de forma integrada, em um modelo de rede. “De, às vezes, parar o atendimento e pensar nas suas práticas.

A gente conseguiu, nas intervenções do grupo, aproximar profissionais e melhorar a comunicação por meio do pensar em seus problemas e em como trabalham”. 

Se os profissionais não se comunicarem, o custo do sistema público de saúde aumenta. “Há evidente fragilidade no diálogo nas equipes de atenção primária; e fragilidade da articulação clínica entre a atenção primária e a média e alta complexidade”, observa a pesquisadora. “Neste sentido, os usuários ficam perdidos e sem referências, além de serem gerados gastos com exames e consultas que se tornam desnecessárias ao longo do processo de tratamento. Quando se verificam os motivos dos encaminhamentos, percebe-se que não havia, em muitos casos, a necessidade de atendimento especializado, o problema poderia ter sido resolvido na APS”. 

A docente aponta que a organização dos processos de trabalho que permeia tanto o sistema público de saúde, como o privado, em todos os diferentes níveis de densidade tecnológica, impede que esses momentos de reflexão em rede entre equipes aconteçam adequadamente. “A demanda acaba engolindo o espaço de diálogo. Há a necessidade de implementar um trabalho em rede que integre os diferentes níveis de densidade tecnológica nos atendimentos em saúde”, defende ela. 

“Qual é o papel da universidade neste contexto? Trabalhar ao longo dos cursos a mudança do perfil do profissional formado, para que ele consiga não ver apenas o seu local de atuação, mas toda a rede em que ele está integrado”, argumenta a professora.

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