Conscientes da realidade de mulheres em situação de vulnerabilidade social e motivadas a desenvolver um projeto para melhorar a vida das pessoas, três estudantes do curso de Medicina da Universidade do Vale do Taquari - Univates criaram o projeto Cartas para Julieta. A ideia surgiu a partir da preocupação com a subnotificação de casos de violência contra a mulher em Lajeado e da perspectiva de que nem todas as mulheres em situação de vulnerabilidade social têm acesso à internet.
Conforme Kananda Schneider, estudante do 6º semestre de Medicina, a iniciativa surgiu a partir do desejo do grupo de participar da Federação Internacional de Associações de Estudantes de Medicina (IFMSA). Um dos requisitos para participar da IFMSA é a realização de um projeto social. Então reunimos acadêmicos de diversos semestres para somar saberes e garantir que o projeto tenha continuidade. Ela explica que por conta das medidas de prevenção ao coronavírus não era possível interagir pessoalmente com as mulheres atendidas pela Casa de Passagem de Lajeado, que recebe mulheres vítimas de violência doméstica e seus filhos. Por isso, a alternativa foi voltar à moda antiga e escrever cartas que fornecessem apoio, carinho e acolhimento, afirma a acadêmica. Além disso, o projeto conta com a entrega de cartas de agradecimento às mulheres que são a rede de apoio das mulheres vítimas de violência.
Para Yasmin Iser, estudante do 5º semestre de Medicina, o projeto também contribuiu para uma formação humanizada e para os estudantes refletirem sobre o papel do médico.
Yasmin acrescenta que a ideia também é a escrita de cartas para homens. Essas cartas destinadas aos homens surgiram como uma extensão do projeto Cartas para Julieta, estando ainda em processo de incubação. O intuito do envio das cartas aos homens é a prevenção, é evitar que o ciclo de violência se estenda a ponto de chegar aos extremos de violência e feminicídio, afirmam as estudantes.
Além das cartas, o grupo também criou o perfil no Instagram @cartasparajulieta, no qual os acadêmicos disponibilizam informações sobre prevenção à violência doméstica, relatos de mulheres que autorizam a divulgação.
O nome do projeto
O nome do projeto Cartas para Julieta foi criado a partir da ideia de escrever cartas à mão. Depois de termos decidido que o projeto seria assim, fomos em busca de nomes que chamassem a atenção das pessoas. Pensamos em Cartas para Marias, mas o nome Cartas para Julieta nos conquistou mais, pois remete a uma história de amor que ultrapassou o tempo. E, no projeto, falamos de amor, tanto que o vídeo disponível no nosso Instagram remete a isso: que o amor pode ser muitas coisas, mas violento ele não é. Acolhimento também é uma forma de demonstrar amor, então escolhemos esse nome para que continuasse de acordo com o sentimento que queríamos que as cartas levassem às suas destinatárias, afirma Kananda.