O doutor Gustavo Reisdörfer, docente da Universidade do Vale do Taquari - Univates, concluiu recentemente seu doutorado pelo Programa de Pós-Graduação em Engenharia Química (PPGEQ) da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM).
Em sua tese, o professor, que na Instituição trabalha com os cursos do Centro de Ciências Exatas e Tecnológicas (Cetec), abordou a recuperação de metais a partir de resíduos, com foco na recuperação de neodímio. A ideia da pesquisa surgiu na primeira conversa que tive com meu orientador, professor Eduardo Hiromitsu Tanabe, que já pesquisava a recuperação de metais a partir de resíduos, comenta.
O professor explica que a recuperação de neodímio, elemento utilizado na fabricação de diversos equipamentos eletroeletrônicos, como tablets, smartphones e monitores, é importante pois o comércio é dominado pela China (com cerca de 90% do total mundial). Pelo seu amplo uso na indústria eletroeletrônica, a escassez de acesso ao elemento acarreta dificuldades ao mercado produtivo de eletrônicos.
Após pesquisas, o professor decidiu trabalhar com resíduos de equipamentos eletroeletrônicos (REEE) e, dentre eles, com os Hard Disk Drive (HDDs) dos computadores. Os HDDs podem ser descartados depois de determinado tempo de uso, por tornarem-se obsoletos, e apresentam em sua composição diversos metais com elevado potencial de recuperação e reaproveitamento. Um desses metais é o neodímio, que é encontrado nos ímãs de NdFeB (neodímio-ferro-boro), explica Reisdörfer.
Outra motivação foi a busca de um processo ambientalmente mais seguro na recuperação de terras raras família de elementos químicos da qual o neodímio faz parte.
Os processos tradicionais de obtenção desses minérios envolvem, além de um grande consumo de energia, o uso de ácidos fortes, que produzem efluentes que necessitam de tratamentos avançados e emitem gases prejudiciais à atmosfera, comenta o docente. O doutor buscou a substituição desses ácidos fortes por ácidos orgânicos (cítrico e málico) em processos de lixiviação, que é a extração ou solubilização dos constituintes químicos de uma rocha, mineral, solo, depósito sedimentar, entre outros, pela ação de um fluido percolante.
Ainda, testou-se o uso de tecnologia supercrítica como auxiliar na recuperação de neodímio. A intenção da tecnologia supercrítica seria diminuir o tempo de reação. Com a lixiviação apenas, chegou-se à recuperação de 99,9% de neodímio utilizando ácido málico após 360 minutos de tempo de reação. Com a utilização de CO2 supercrítico, o tempo para recuperação de 99% de neodímio reduziu para 30 minutos. Então, foi possível recuperar neodímio com o uso de ácido orgânico e, com a utilização de CO2 supercrítico, conseguiu-se diminuir o tempo para recuperação, revela o docente.
A relevância da pesquisa está no reaproveitamento dos REEEs na obtenção de uma terra rara nobre, comenta o professor.
A tese está vinculada ao Laboratório de Processos Ambientais (Lapam) da UFSM, no qual uma linha de pesquisa voltada à recuperação de metais segue com os estudos, buscando agora o aproveitamento do neodímio após sua recuperação.
Além da orientação do professor Eduardo Hiromitsu Tanabe, o trabalho teve coorientação do professor doutor Daniel Assumpção Bertuol. A banca de avaliação foi composta pelos professores doutores Adriano Cancelier e Christian Luiz da Silveira, ambos da UFSM, Fernando Henrique Borba (Universidade Federal da Fronteira Sul) e Ricson Rocha de Souza (Univates).