A Língua Brasileira de Sinais (Libras) é fundamental para o aprendizado de surdos em escolas de educação bilíngue, uma vez que tem significados próprios que não podem apenas ser traduzidos da língua portuguesa, a qual é ensinada na modalidade escrita. Pensando nisso, a recém-doutora Francisca Agapito investigou o ensino de matemática para surdos na Escola Municipal de Educação Bilíngue para Surdos Professor Telasco Pereira Filho, em Imperatriz, no Maranhão, cidade onde ela reside.
A tese Tessituras etnomatemáticas nos anos iniciais na perspectiva da educação bilíngue para surdos no município de Imperatriz/MA foi defendida no Programa de Pós-Graduação em Ensino (PPGEnsino) da Universidade do Vale do Taquari - Univates, sob orientação da professora Ieda Giongo e coorientação da professora Morgana Domênica Hattge, na última terça-feira, 30 de junho.
No estudo, Francisca analisou os jogos de linguagens matemáticos expressos de um grupo de alunos surdos do 4º e 5º anos do Ensino Fundamental e de suas respectivas professoras.
Ela explica que os jogos de linguagem se referem aos modos de operar com a matemática (formas de calcular, inferir, mensurar, gerar conhecimentos matemáticos etc.) que ocorrem dentro de distintos grupos culturais. Na pesquisa eu analisei os jogos de linguagem do grupo de alunos surdos da escola bilíngue e busquei semelhanças com os jogos de linguagem que são próprios da matemática escolar, explica.
Conforme a doutora, ela buscou referencial teórico e metodológico no campo da etnomatemática, que se refere ao fato de considerar as questões culturais nos processos de ensino e de aprendizagem. Também foram acionadas as ideias da maturidade de Ludwig Wittgenstein e conceitos da obra de Michel Foucault. Para realizar o estudo, Francisca usou como instrumentos metodológicos as observações, filmagens realizadas no decorrer das aulas de matemática, excertos registrados no diário de campo, fotos e materiais produzidos por oito alunos surdos do 4º e 5º anos do Ensino Fundamental e duas professoras.
A partir dos dados, Francisca observou que o uso de materiais concretos, como jogos e objetos, contribui para a aprendizagem de alunos surdos, assim como para alunos ouvintes, porém na escola bilíngue analisada foi identificado que alguns alunos não necessitavam mais desses materiais.
Francisca também constatou que há semelhanças em distintos graus entre a matemática escolar e aquela praticada pelos alunos surdos, algumas tênues, outras mais marcantes. Por exemplo, na matemática escolar aprendemos o cálculo direto 5 x 6 = 30, usualmente fazendo uso apenas da tabuada. Os alunos surdos analisados utilizaram outras estratégias: a decomposição, o agrupamento em pares e a adição. É um modo diferente de calcular, isto é, um jogo de linguagem matemático utilizado naquele grupo cultural para entender o conteúdo de multiplicação. Na análise eu identifiquei semelhanças de família com os jogos vinculados à matemática escolar, porque eles usaram adição, agrupamento e decomposição, que são próprios dessa matemática. Verifiquei também que os alunos usavam, de forma diversificada, círculos para a realização dos cálculos de multiplicação. Alguns alunos surdos também usavam pontos dentro dos círculos, outros não. Alguns faziam agrupamentos com os círculos, outros, além de agrupar, colocavam pontos no interior dos círculos. Esse fato mostrou que até dentro de um mesmo grupo cultural há diferenças nos modos de operar com a matemática, esclarece
Francisca analisa que a Escola Bilíngue para Surdos mostrou-se um espaço inovador e com abertura para a emergência de distintos jogos de linguagem e, ao utilizar o campo da etnomatemática em seus estudos, foi possível dar visibilidade a diferentes formas de construir o conhecimento matemático . Nesse contexto ocorre a valorização dos aspectos culturais, como a visualidade do surdo. Os alunos tiveram acesso aos jogos de linguagem que são próprios da matemática escolar, mas também puderam usar seus jogos de linguagem. Houve ampliação das possibilidades de ensinar e aprender matemática, finaliza.
Inscrições abertas para mestrado e doutorado
O Programa de Pós-Graduação em Ensino (PPGEnsino) da Univates recebe inscrições, até o dia 28 de agosto, para mestrado e doutorado. O edital pode ser conferido em www.univates.br/ppgensino/. Mais informações podem ser obtidas pelo e-mail ppgensino@univates.br.