Queridos alunos, professores, técnico-administrativos e amigos da Univates!
O antropólogo, escritor e político brasileiro Darcy Ribeiro, eternizado no mural pintado por Kobra na fachada de nosso primeiro prédio, dedicou sua trajetória à educação e às questões indígenas. Suas ideias influenciaram vários estudiosos latino-americanos. Publicou, em 1995, o livro O Povo Brasileiro, obra que aborda a formação histórica, étnica e cultural do povo brasileiro. Resgatar a obra de Darcy Ribeiro é lembrar quem somos. Assim como ele ajudou a resgatar nossa identidade, este talvez seja o momento de voltarmos nosso olhar às nossas raízes. Talvez, dessa forma, encontremos as respostas que nos faltam e que nos façam olhar para o futuro para construirmos uma história diferente.
Numa entrevista para a TV Cultura de São Paulo em 1995, Darcy comentou sobre seus estudos fazendo, naquela época, uma reflexão que é mais atual do que nunca:
O processo civilizatório nos levou a um patamar tecnológico inimaginável há algumas gerações. No entanto, temos falhado em respeitar culturas e patrimônios, sejam de nações indígenas, sejam de povos ou de minorias vulneráveis espalhados pelo mundo. Falhamos enquanto sociedade em aprender com a solidariedade, com o senso coletivo e com o amor pela natureza e pelo humano. E, em certa medida, a pandemia que vivemos é também fruto dessa desconexão. Em várias oportunidades, Darcy expressou seu amor pelo povo brasileiro, sua preocupação com as minorias e sua luta por condições mais dignas e igualitárias num país afundado em desigualdades sociais.
É nesse contexto, não só brasileiro nem só latino-americano, de desigualdades sociais e de marginalidade das minorias que Darcy pensa o papel da educação como ferramenta de inclusão, de libertação e de transformação da realidade.
Uma das coisas que a pandemia trouxe vem ao encontro dessa preocupação: a necessidade de olhar para o local, de olhar para dentro, para nossa própria existência. E esta é uma grande contribuição que povos e culturas vulneráveis podem nos trazer: eles têm um sentido de pertencimento à natureza, uma noção do impacto das suas ações que se reflete no respeito admirável a toda a biosfera. A consciência do impacto gera um senso de cuidado que dificilmente temos.
É o momento para voltar o olhar para o local e com isso aprender a cuidar da gente, das pessoas próximas, dos negócios próximos. Muitos estão acordando para o fato de comprar do local, muitos estão voltando o olhar para suas comunidades, preocupados com os impactos econômicos que os pequenos negócios estão sofrendo e ainda sofrerão.
Uma universidade comunitária, como é o caso da Univates, deve ter sua trajetória e seu dia a dia envolvidos nas redes mundiais de conhecimento, saberes e pesquisas, mas sempre voltados para a busca de soluções e propostas para o seu local, para a sua comunidade. As pesquisas e os projetos de extensão precisam buscar soluções para problemas locais, atendendo a demandas das nossas regiões. O conhecimento e a ciência produzida para o local, mas em constante interação com o universal, acabam por nos fazer avançar para novos patamares da construção do conhecimento.
Nós todos, enquanto comunidade acadêmica, pensadores, construtores, disseminadores e guardiões do conhecimento, temos esse legado para deixar para os que virão.
Seremos grandes e fortes pois estaremos juntos.
Abraços (virtuais), ânimo, saúde e força para todos.
Andrà tutto bene!
!Todo va a estar bien!
Everything will be alright!
Alles wird gut!
Tudo vai ficar bem!
Lajeado, 13 de maio de 2020.
Oitava semana de isolamento.
Ney José Lazzari
Reitor da Univates