O ditado você é o que você come nunca fez tanto sentido. O pesquisador do Programa de Pós-Graduação em Sistemas Ambientais Sustentáveis (PPGSAS) da Universidade do Vale do Taquari - Univates Marlon Dalmoro, em parceria com pesquisadores da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs) e da Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos), desenvolveu um estudo que evidencia que o consumo de alimentos orgânicos está diretamente relacionado à preocupação com a saúde, com o meio ambiente e ao incentivo da produção local. Aplicado a mais de mil pessoas, de todas as idades e majoritariamente residentes na grande Porto Alegre e no Vale do Taquari, o questionário foi respondido por dois perfis, os que consomem e os que não consomem alimentos orgânicos. Além disso, as questões foram divididas em cinco temáticas: satisfação com a vida, materialismo, preocupação com a saúde, preocupação com o meio ambiente e preocupação em incentivar a produção local. O que surpreendeu os pesquisadores foi a relação direta do consumo de alimentos orgânicos com os índices de percepção de felicidade.
A avaliação sobre satisfação com a vida se divide em outras categorias que constroem o conceito de bem-estar subjetivo: alegre, de bom humor, extremamente feliz, calmo, pacífico, satisfeito e satisfação com a vida. Cada um dos itens é um construto específico, e o último, a satisfação com a vida, é uma avaliação geral. Interessante reparar que o último é maior do que a média dos demais, pontua Marlon. O gráfico que apresenta os resultados da pesquisa tem uma escala que vai de zero a oito; quanto mais alto o número, mais alegre ou satisfeito o consumidor se considera. A média de satisfação com a vida em geral chega a 7,54 para quem consome produtos orgânicos e a 7,14 para quem não consome. Já no que diz respeito à alegria, a média de respostas foi de 5,2 entre aqueles que consomem orgânicos e de 4,87 para quem não consome.
Sobre materialismo, conforme a pesquisa, aqueles que não consomem alimentos orgânicos tendem a admirar mais as pessoas que possuem bens de luxo e dizem gostar mais de luxo em sua vida do que aqueles que consomem alimentos orgânicos. Neste gráfico, quanto mais alto o número, mais apego aos bens materiais. Nesse caso, a escala vai de um a cinco. No último caso a diferença média de pontos chega a 0,81. A escolha dos alimentos também está diretamente ligada com a preocupação com a saúde. Aqueles que consomem alimentos orgânicos dizem evitar problemas de saúde antes de sentir algum sintoma, mais do que quem não consome. No primeiro caso, a média de pontos chega a 5,34, enquanto para o segundo grupo a média é de 4,75.
Conforme Marlon,o projeto de pesquisa era bastante amplo e gerou muitos resultados, não só em relação produtos rurais e aos consumidores, mas também como outras áreas da vida são impactadas. A importância desses resultados é conseguir evidenciar que o que a gente consome, os nossos comportamentos e as nossas decisões de consumo de alguma forma reverberam em outros âmbitos de nossas vidas, afirma. Para o pesquisador, os resultados podem ajudar nas tomadas de decisão não apenas dos consumidores de alimentos, mas também de gestores, resultando em políticas públicas de incentivo à alimentação mais saudável, por exemplo. Empreendedores também podem se orientar pelas pesquisa, uma vez que gestores podem buscar desenvolver alimentos e produtos que contribuam para que o consumidor tenha um modo de vida mais sustentável, mais saudável e consequentemente mais feliz.
Quem troca agrotóxicos por doses de felicidade
A partir do momento em que Miriam Helena Kronhardt teve consciência de como a alimentação influencia na saúde e bem-estar, ela passou a optar pelos alimentos orgânicos. Foi durante a graduação em Ciências Biológicas que Miriam teve a oportunidade de aprender mais sobre o corpo humano e o desenvolvimento dos demais seres vivos, como as plantas. Aprendi que os nutrientes necessários para o bom funcionamento do corpo humano estão na alimentação. Uma planta que cresceu no meio que fertilizantes químicos e agrotóxicos não é uma planta saudável, conta. Para ela, uma vida mais sustentável pode trazer mais felicidade, pois está relacionada ao bem-estar, à saúde e à disposição para realizar objetivos. Nós seres humanos fazemos parte da natureza, estamos conectados a ela. Nossa alimentação vem da natureza, lembra.
Filha de feirantes, Miriam sempre consumiu poucos produtos processados. A produção de alimentos em grande escala, com uso de agroquímicos, é algo que me incomoda muito. Sempre pensei que é preciso ter outra forma de produzir alimentos, sem tanto impacto, como a produção agroecológica, ressalta.
Tiago Belin sofre com o mesmo incômodo. Desde 2019 ele produz alimentos orgânicos e há cerca de dois meses começou a participar da Feira de Produtos Orgânicos da Univates, com produtos como microverdes, hortaliças em geral, frutíferas e produção de madeira. O motivo de trabalhar com produção orgânica vem da vontade de trabalhar a regeneração de florestas aliada com a produção de comida de verdade, conta o produtor.
Se você não pode ir até a feira orgânica, a feira vai até você
Assim como outros produtores da Feira Orgânica da Univates, Belin está fazendo tele-entrega de seus produtos orgânicos. O serviço de entrega ocorre no mínimo duas vezes por semana, em Estrela e Lajeado, e os pedidos são feitos a partir de um grupo do WhatsApp. No grupo o feirante informa quais são os produtos disponíveis. Os perfis nas redes sociais (@raizesagro, no Instagram) também estão abertos para envio de mensagens.
Para mais informações sobre a Feira Orgânica da Univates e sobre quais feirantes estão fazendo tele-entrega, entre em contato pelo e-mail quintatemfeira@univates.br.