Naturalmente presentes na flora intestinal humana, as bactérias ácido-lácticas (BALs) são utilizadas na indústria alimentícia por possuírem propriedades probióticas, e serem capazes de proporcionar benefícios para saúde dos consumidores. Pensando nisso, um estudo desenvolvido no Programa de Pós-Graduação em Biotecnologia (PPGBiotec), pela mestre Angélica Vincenzi, orientado pela professora doutora Claucia Volken de Souza e coorientado pela professora doutora Márcia Goettert, buscou compreender o potencial anti-inflamatório desses micro-organismos. Para isso, foram analisadas BALs da empresa Launer, de Estrela, as quais foram previamente isoladas de leite in natura e queijo de produtores do Vale do Taquari.
A empresa Launer Química desenvolve com o Parque Científico e Tecnológico do Vale do Taquari (Tecnovates), desde 2013, o projeto Seleção, identificação e caracterização de micro-organismos para uso na elaboração de produtos lácteos, também sob a coordenação da professora Claucia. Porém esse não é o único projeto em andamento por meio da parceria. Diversos trabalhos estão sendo realizados com o objetivo de associar o conhecimento técnico-científico à aplicabilidade industrial.
Para o estudo, Angélica analisou os mecanismos de ação de cinco BALs do gênero Lactobacillus, com potencial probiótico, ou seja, micro-organismos vivos que quando utilizados em quantidades adequadas proporcionam benefícios para saúde.
Para serem considerados probióticos, alguns critérios essenciais foram avaliados, entre eles a sua capacidade de adesão ao epitélio intestinal, o tecido que reveste internamente o intestino, permitindo a efetiva ação dos efeitos benéficos das bactérias. De acordo com Angélica, entre os principais benefícios dos probióticos para o organismo estão a manutenção do equilíbrio da microbiota intestinal normal, o alívio de sintomas de intolerância à lactose e ainda a prevenção do desenvolvimento de doenças inflamatórias intestinais crônicas, como a doença de Crohn e a colite ulcerativa. Esses benefícios ocasionados pelos probióticos ocorrem devido a capacidade que eles possuem de modular o sistema imune e proporcionar efeito anti-inflamatório, afirma ela.
Para isso, a pesquisa de Angélica foi realizada para investigar como isso acontece a nível molecular, ou seja, como as bactérias agem na atividade das células relacionadas com processos inflamatórios. Os probióticos atuam modulando a liberação de citocinas pró-inflamatórias, ou seja, de substâncias químicas que promovem ou contribuem para processos inflamatórios. O fator de necrose tumoral (TNF-α) representa uma das principais citocinas pró-inflamatórias. Quando ele encontra-se em níveis elevados, são desencadeados processos inflamatórios crônicos, relacionados a doenças inflamatórias crônicas. Por outro lado, a citocina IL-10 tem atividade anti-inflamatória, ou seja, ela ajuda a combater processos inflamatórios. Com a pesquisa, observa-se que os probióticos atuam modulando as citocinas envolvidas em processos inflamatórios.
Para chegar a esses resultados, Angélica realizou experimentos in vitro que simulavam/imitavam as células do epitélio intestinal. A partir dos resultados obtidos, encontramos BALs com expressivo potencial probiótico e com características promissoras por demonstrarem elevada capacidade adesiva a mucosa intestinal, bem como pelo potencial anti-inflamatório.. Desta forma, destacamos o potencial biotecnológico de bactérias ácido-lácticas, as quais possuem capacidade para serem incorporadas a produtos lácteos fermentados e/ou produtos farmacêuticos, que poderão beneficiar a população.
Inscrições abertas
O PPGBiotec está com inscrições para 20 vagas de mestrado e 10 de doutorado. As inscrições podem ser realizadas até 6 de maio no site univates.br/ppgbiotec/