Ao longo dos tempos, crianças com Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) têm sido descritas como pessoas que não aprendem, que não conseguem relacionar-se ou que só atrapalham, entre outras características que lhes são atribuídas no senso comum.
Os sintomas desse transtorno são conhecidos e já estão descritos na literatura científica. No entanto, diferentes abordagens podem dar uma nova perspectiva para a compreensão dessas crianças. Foi com esse intuito que Mônica Siqueira Damasceno produziu a tese Educação ambiental vivencial e o desenvolvimento cognitivo e socioafetivo de crianças com TDAH no doutorado do Programa de Pós-Graduação em Ambiente e Desenvolvimento (PPGAD) da Univates, orientada pela doutora Jane Mazzarino.
De acordo com Mônica, ao colocar as crianças com TDAH em contato com a natureza, deu-se a elas a oportunidade de imersão nas potencialidades que nelas existem. Esses rótulos não podem ser utilizados como a única verdade, visto que os sujeitos da pesquisa mostraram que os sintomas do transtorno não são impedimento para que se desenvolvam e se relacionem de forma satisfatória, analisa.
Para chegar a esse resultado, o estudo empírico foi realizado com crianças com TDAH matriculadas nas escolas públicas do município de Crato, no interior do Estado do Ceará, região Nordeste do Brasil. Mônica explica que o intuito foi examinar se a interação com a natureza permite avanços nos processos de desenvolvimento cognitivo e socioafetivo das crianças.
Para isso, os participantes da pesquisa se envolveram em práticas baseadas no método do aprendizado sequencial de Joseph Cornell, que consistem em jogos e brincadeiras com e na natureza, além do contato amoroso com o meio ambiente.
A partir das práticas, a pesquisadora afirma que foi possível constatar que o contato com a natureza apresenta uma infinidade de resultados positivos para a saúde, inclusive para o TDAH. Quando há a oportunidade de conviver com o ambiente natural, sem a pressão da sala de aula, a criança desenvolve sua autonomia, adquire conhecimentos relativos ao ciclo de vida das plantas e animais e, por consequência, à sua própria vida e ao papel que ela representa na teia vital, observa.
Mônica acrescenta que a análise do processo de intervenção na natureza, considerando as mudanças observadas no desenvolvimento biopsicossocial dos sujeitos da pesquisa, permite concluir que o contato com ambientes naturais propicia uma potente experiência de vida para crianças com TDAH. Esse foi um estudo que demonstra fôlego em relação às múltiplas metodologias associadas, o que permite afirmar que o contato com a natureza impacta nos aspectos sociais, afetivos e cognitivos de crianças com TDAH. Vale salientar que pessoas com outros transtornos ou mesmo sem nenhum transtorno também podem beneficiar-se com as vivências com e na natureza, finaliza.
A pesquisadora faz parte do grupo de pesquisa Comunicação, Educação Ambiental e Intervenções (Ceami), vinculado ao PPGAD, sob coordenação da professora doutora Jane Mazzarino. A tese foi coorientada pela doutora Aida Figueiredo, da Universidade de Aveiro, em Portugal, onde Mônica realizou parte do seu doutorado no Centro de Investigação Didática e Tecnologia na Formação de Formadores (CIDTFF) do Departamento de Educação e Psicologia da Universidade de Aveiro. A tese foi aprovada, tendo como membros da banca as professoras doutoras Joana Bucker (Univates), Yasmini Sperafico (ProDAH/HCPA-Ufrgs) e Marina Dalzochio (Univates).
Inscrições abertas para mestrado do PPGAD
Até o dia 30 de abril, o PPGAD recebe inscrições para 10 vagas de mestrado. O programa tem três linhas de pesquisa: Tecnologia e Ambiente; Espaço e Problemas Socioambientais; e Ecologia. Para participar da seleção, o interessado deve ser diplomado de graduação em instituição reconhecida pelo Ministério da Educação (MEC). As inscrições podem ser realizadas neste link. As atividades do regime modular iniciam em julho. Mais informações podem ser obtidas pelo e-mail ppgad@univates.br ou pelo telefone (51) 3714-7000, ramal 5616.