O Brasil é o terceiro país com a maior população carcerária no mundo. Atrás de Estados Unidos e China no pódio internacional, as instituições prisionais brasileiras concentram mais de 800 mil pessoas, segundo os dados do Banco de Monitoramento de Prisões do Conselho Nacional de Justiça (CNJ). Prisões superlotadas, abusos e violência contra detentos são alguns dos pontos que permeiam o debate público e não contribuem para a ressocialização de quem está em uma unidade prisional.
Nicole Morás
O Projeto Marias: Corpo e Linguagem na Instituição Prisional procura, através da expressão corporal, resgatar a coragem e fortalecer a socialização. A iniciativa faz parte dos Projetos de Extensão da Universidade do Vale do Taquari (Univates) e atua semanalmente no Presídio Estadual Feminino de Lajeado Miguel Alcides Feldens.
O projeto surgiu a partir do Projeto de Extensão Veredas da Linguagem e trabalhava com mulheres que cumpriam pena no presídio de Lajeado, inaugurado em 2016. Ainda com vínculo com o Projeto Veredas, a equipe passou a entrar quinzenalmente nas propriedades do presídio, conduzindo atividades voltadas às práticas corporais, como dança, ginástica, jogos ou atividades de alongamento. "Íamos diversificando bastante os métodos, mas o foco principal sempre foram as práticas corporais", conta a coordenadora do projeto, Silvane Fensterseifer Isse.
Em 2018, o Projeto Marias se ampliou e passou a fazer os encontros semanalmente dentro da instituição prisional, distanciando-se da antiga iniciativa do Veredas. A partir dessa ampliação, a atuação do grupo passou a inserir também práticas artísticas. Segundo a coordenadora, no início da atuação, o grupo notou uma dificuldade de comunicação e de interação entre as cerca de 40 mulheres na instituição. "Começamos a sentir que precisava uma ação mais efetiva no sentido de que o corpo e a arte se apresentam como elementos de mediação dessas relações", conta a coordenadora, que é professora de Educação Física e tem na dança um dos seus objetos de pós-graduação.
Nicole Morás
Vinculado ao programa de extensão Arte, Estética e Linguagem, o projeto passou a ser independente e incorporou seu nome oficial, mantendo as sessões semanais com base nas práticas corporais e artísticas. Além disso, o projeto passou a incorporar novas atividades, fortalecendo sua atuação e servindo como ponte entre o Presídio Estadual Feminino de Lajeado e a comunidade, caso da participação de algumas das detentas em um programa de rádio da Univates.