Se você deseja incrementar seu cardápio de maneira saudável e sem gastar muito, deve considerar o consumo regular de plantas alimentícias não convencionais (Pancs). Apesar de relativamente nova no cenário nutricional, a opção torna-se uma ótima pedida para quem busca variar o consumo de produtos de origem natural e quer diminuir a incidência de ingredientes prejudiciais à saúde, como agrotóxicos. As Pancs opõem-se aos hábitos alimentares modernos (sustentados, principalmente, pela ingestão de gorduras saturadas e afins), nascem e se desenvolvem na natureza e, justamente por isso, constituem escolhas mais pertinentes para uma dieta equilibrada e benéfica ao organismo.
Tubérculos, folhas, flores e brotos são exemplos de Pancs. Talvez, num primeiro momento, seja estranho imaginar partes de plantas dispostas em travessas sob a mesa de refeições, mas a professora do Curso de Gastronomia da Univates Deise Sterque da Silva garante que cultivar e ingerir esses vegetais vale a pena. As Pancs trazem benefícios à saúde e ao meio ambiente. Elas possuem alto teor de nutrientes e estimulam a agricultura agroecológica, pois são encontradas, principalmente, em feiras orgânicas. Além disso, há a valorização do ingrediente local e a facilidade de criação das plantas em âmbito doméstico, destaca.
Tuane Eggers
Sterque comenta que o primeiro contato que teve com Pancs foi em 2013, quando era responsável pelo conteúdo culinário do programa Fome de quê?, transmitido pelo Discovery Home & Health. Ela trabalhou ao lado da chef e banqueteira Neka Menna Barreto na execução de receitas diversas. Naquela época, o conhecimento acerca dessas plantas não era tão difundido e foi relativamente difícil obtê-las para o preparo dos pratos de um dos programas. Não conseguimos encontrar, por exemplo, palmito de taioba, explica. Hoje em dia, entretanto, o consumo de Pancs está no epicentro de rotinas alimentares ajustadas aos princípios da gastronomia saudável e criativa.
Sítio Verde Viver, em Viamão, aposta em cultivo orgânico e saudável
Em 2003, a museóloga Katia Almeida e seu marido Marcio tornaram-se donos do Sítio Verde Viver, localizado no distrito viamonense de Itapuã. Motivado pelo desejo de estar mais próximo ao meio ambiente, o casal começou a cercar de natureza variada e exuberante um terreno de 2,5 hectares. Queríamos, também, repensar conceitos de pertencimento e de biodiversidade e, assim, maximizar nosso conhecimento na área da saúde, que, hoje, é um assunto muito necessário e importante, elucida a proprietária. Ela acrescenta ainda que o processo de concepção do sítio esteve sempre alicerçado na máxima de que a alimentação pode contribuir para transformar entornos e pessoas.
Divulgação
O sítio, inaugurado há 14 anos, abriu suas portas como instituição de educação ambiental apenas em 2017. Desde então, segundo Katia, dinâmicas que objetivam tomada de consciência por meio da reconexão com a natureza são realizadas no local.
Por meio das intervenções praticadas, os visitantes podem aprofundar-se em assuntos que contemplam desde a observação de pássaros até a utilização de ervas medicinais aromáticas para fins terapêuticos.
As plantações cultivadas no sítio atendem a necessidades e preferências diversas. No terreno desenvolvem-se, por exemplo, culturas de aipim, batata-doce, milho, cenoura, beterraba e tomate. As Pancs dividem espaço com frutas e verduras tradicionais, comumente inseridas na alimentação diária de qualquer pessoa. Começamos a experimentar novas formas de consumo de partes de plantas que normalmente não são utilizadas, como é o caso das entrecascas de maracujá e melancia, das folhas de malvavisco, do tronco de mamoeiro, conta Katia. Ela menciona que a diversidade na natureza, apesar de grande e disponível, muitas vezes é desperdiçada e pouco estimulada.
Katia salienta que a principal proposta do sítio é abordar o cultivo de alimentos de maneira soberana e autônoma, defendendo a escolha de uma agricultura limpa, isenta de venenos e manipulações genéticas e variada em todas as suas possibilidades. Pensamos a saúde como um bem-estar físico, psíquico, social, cultural e espiritual. Escolhendo a natureza como modo de vida, abrimos o diálogo para outras alternativas em relação ao funcionamento do mundo moderno. A partir de certas premissas, podemos rever aspectos do consumismo e do uso do tempo e nossos propósitos como humanidade, reflete.
Equilibrando a dieta com Pancs
Você sabia que as Pancs podem ser incrementadas na alimentação de forma muito gostosa? A professora do curso de Gastronomia da Univates explica que é possível adicionar partes de determinadas plantas no preparo de sucos, refogados, pães, bolos e pestos. A flor de capuchinha em uma salada, por exemplo, é saborosa e traz cor e beleza ao prato, comenta.
Katia também é defensora da inserção regular de Pancs em dietas alimentares. As pessoas precisam aprender a identificar, a cozinhar e a experimentar essas iguarias não convencionais. Existe uma infinidade de receitas que conseguimos explorar e, assim, torna-se fácil aumentar o repertório culinário, frisa.
Tanto Deise quanto Katia concordam que as vantagens do consumo de Pancs devem ser amplamente divulgadas para que esse tipo de cardápio reúna cada vez mais adeptos.