A aula inaugural Cultura afro-brasileira no contexto educativo: relações étnico-raciais, promovida pelos cursos de licenciatura da Universidade do Vale do Taquari - Univates, reuniu na última terça-feira, 6, no auditório do Prédio 7, quatro palestrantes que trabalham ou pesquisam sobre a questão racial. A temática está relacionada com o décimo objetivo de desenvolvimento sustentável da Agenda 2030 da Organização das Nações Unidas (ONU), trabalhado pela Rede ODS Brasil, à qual a Univates é afiliada.
A abertura do evento contou com a apresentação do grupo vocal da ONG Alphorria. Na sequência, a advogada e assessora jurídica Ana Lúcia Landim apresentou o trabalho realizado por essa organização não governamental em Venâncio Aires. Segundo Ana Lúcia, a ideia é emancipar sujeitos por meio da valorização da cultura negra durante ações em escolas, grupos de estudos e na promoção e participação em eventos.
Já a doutora Viviane Inês Weschenfelder, que também é ativista da ONG Alphorria, apresentou um panorama de como as questões étnico-raciais são geralmente abordadas em escolas. Ela explicou que a temática tem sido trabalhada nos educandários a partir da Lei 10.639/2003, que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional, para incluir no currículo oficial da rede de ensino a obrigatoriedade da temática História e Cultura Afro-Brasileira.
Eu sempre quis ser professora. E nunca pensei que a escola pudesse ser um espaço difícil de se habitar ou de violência. Além do preconceito, a capacidade intelectual de um aluno é questionada por causa do seu fenótipo, disse a doutora. Viviane apresentou ainda as possibilidades de abordar a temática na escola, incentivando os estudantes de licenciatura a planejarem atividades a partir de múltiplas narrativas e a refletirem sobre seu papel na formação de cidadãos. A escola deve ser um lugar de superar desigualdades, finalizou.
Participou ainda da aula inaugural o mestre e funcionário da Prefeitura de Porto Alegre Márcio Cardoso Coelho, que falou sobre indicadores da desigualdade entre negros e brancos na cidade, onde há 98 escolas municipais, das quais cerca de 85% estão localizadas em regiões de periferia. Precisamos refletir sobre a forma como o negro está inserido no processo de escolarização, afirmou.
Por fim, o mestre e professor da Univates Sergio Nunes Lopes falou sobre a cultura afro-brasileira e o ensino superior e as novas lógicas de construção de conhecimento na Universidade. Lopes tratou da impermeabilidade da universidade em relação à cultura afro-brasileira, sinalizando acontecimentos históricos que ajudam a explicar, não a justificar, por que isso aconteceu, e em certa medida ainda acontece. O professor abordou historicamente o acesso elitizado à educação e discutiu uma série de convenções e tomadas de decisão, desde o poder constituído, que excluiu a cultura afro-brasileira dos currículos e os próprios afrodescendentes do ambiente universitário por muito tempo.
Sobre o acesso histórico de negros à educação, Lopes comentou que justamente a educação, uma das ferramentas mais potentes de promoção da equidade, foi colocada a serviço do distanciamento socioeconômico. A instrução, os meios de produção e a riqueza, dessa forma, passam a ser distribuídos no Brasil numa escala inversamente proporcional à concentração da melanina na epiderme.
Durante a noite também foram apresentados os Programas de Extensão da Univates, que recebem participação voluntária de estudantes e contribuem para a sua formação. Além do público presencial, a aula foi transmitida por videoconferência, no Ambiente Virtual, para alunos dos cursos de licenciatura na modalidade a distância.
Saiba mais
A proposta de debater sobre a cultura afro-brasileira na aula inaugural surgiu durante o trabalho de conclusão de curso da estudante Angélica Xavier, do curso de Educação Física - licenciatura, que tem o professor Leandro Oliveira Rocha como orientador. A pesquisa está em andamento e é intitulada A cultura afro-brasileira na proposta pedagógica da Educação Física escolar. Ao longo das orientações percebeu-se a carência de debates sobre o assunto.
Revista Univates aborda a temática
Durante o evento foi distribuída a recém-publicada Revista Univates, que tem como matéria principal o racismo. A reportagem apresenta dados sobre a realidade dos negros no Brasil, como o cenário econômico que apresenta desigualdade muito grande. Dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD Contínua) de 2017 mostram que a média salarial de brancos no País era de R$ 2.814,00. Entre pardos, a média caía para R$ 1.606,00 e entre negros, para R$ 1.570,00. Ou seja, a população negra ganha pouco mais da metade do salário da população branca. O texto apresenta ainda entrevistas que abordam o racismo estrutural e as manifestações culturais que surgiram no Brasil a partir das comunidades negras. A versão impressa da publicação está disponível em diversos pontos do campus e a versão on-line pode ser acessada em univates.br/revista.