Uns são mais tímidos, sérios e concentrados. Outros mais extrovertidos, alegres e brincalhões. As características mudam completamente de uma pessoa para a outra e são elas que definem a personalidade de cada um de nós. Você provavelmente já deve ter parado para pensar no que o faz ser quem você é!
Aliás, todos nós, em algum momento da vida, costumamos ouvir a tradicional comparação entre pai e filho ou mãe e filho. Mas, e aí, quais fatores influenciam na formação da nossa personalidade? Aquela conversa de Ah, é teimoso igual o pai será que faz sentido?
Artur Dullius
Conforme explica o médico geneticista e professor do curso de Medicina da Univates André Anjos, sim. Segundo ele, a genética tem muito a ver e uma importância considerável na formação da personalidade das pessoas. Os traços da personalidade, assim como várias outras características dos seres humanos, são considerados, dentro da genética, o que denominamos de herança complexa, ou herança multifatorial, pois conta com diversos fatores envolvidos, explica.
Mas, como tudo o que envolve o ser humano, as definições não são tão simples assim. Isso porque os genes não são determinantes para a formação da personalidade. Eles funcionam muito mais como tendências genéticas. Além da hereditariedade, as questões ambientais também exercem influência na formação e definição das nossas características. São duas forças atuando na formação da personalidade das pessoas. Nenhuma é predominante e ambas atuam em conjunto para que os traços de comportamento se manifestem, conta Anjos. É por isso que não é possível definir uma idade exata a partir da qual a personalidade de um indivíduo está estabelecida. Conforme o professor, o período da infância é bastante definidor dentro do que apresentaremos a respeito de características futuras, mas não podemos afirmar que somente na infância a personalidade estaria em formação.
Para mostrar a importância dos dois fatores no processo de formação da personalidade, o professor cita exemplos de estudos feitos com gêmeos monozigóticos (gêmeos idênticos que possuem o mesmo genoma), que apresentam personalidades diferentes. Algumas pessoas dizem que gêmeos precisam ter atitudes e pensamentos similares, mas nós sabemos que isso não acontece. Encontramos inúmeros gêmeos que possuem fatores genéticos muito idênticos, mas personalidades completamente diferentes. Nesse caso, é a influência do meio ambiente a responsável por essa diferenciação, lembra.
Por outro lado, ele lembra do caso de filhos adotivos que, mesmo sem contato com os pais biológicos, apresentam semelhanças na personalidade.
Aí o fator genético teve maior influência, conclui. Já para explicar as diferentes personalidades dentro de uma mesma família, o professor lembra que não é possível pontuar se a herança materna ou paterna é mais forte, pois isso depende de cada indivíduo.
Ou seja, o ideal é falarmos que a pessoa tem tendência genética à preguiça, ou então tendência genética ao otimismo. Pois é diante daquilo que vivenciamos no ambiente, ao que somos expostos, a forma como somos educados e a tudo que temos de experiência, que irão se manifestando mais ou menos as características predispostas. Isso vale para todos os traços, desde a inteligência, quantidade de sono, preguiça, gula.
O professor lembra que a situação é bastante similar com os casos trabalhados em algumas doenças, dentro da genética médica. Segundo ele, por mais que uma pessoa possa ter uma base genética predisposta a ter hipertensão, é conforme o que fizer, sua alimentação e rotina de exercícios físicos, que ela irá desencadear aquela doença ou não.
Ele conta, inclusive, que boa parte dos genes conhecidos dentro da genética comportamental só foram descritos e descobertos em razão do estudo de patologias. Se pegarmos um grupo de pessoas depressivas e passarmos a estudar o que de base genéticas elas podem ter, começamos a encontrar genes relacionados à tristeza ou à felicidade, lembra o professor.
Estudos dentro da Educação Física também têm analisado as aptidões físicas com os traços genéticos e tomam um caminho bastante parecido com as questões comportamentais. Alguns genes podem dar informações para a formação de fibras musculares mais longas ou mais curtas, e, então, dependendo da musculatura que se forma, o organismo vai estar mais propenso a se dar melhor em um tipo de esporte, ou em outro. Mas eu preciso realmente ser exposto a essa prática para desenvolver essa característica, afirma Anjos.
Essa matéria faz parte da Revista Univates, nº8. Confira a versão digital aqui.