Desatenção, impulsividade e hiperatividade são algumas características do Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH), que afeta de 3% a 5% das crianças de acordo com a Associação Brasileira do Déficit da Atenção (ABDA). Além disso, alguns estudos indicam que os estudantes com TDAH correm de duas a três vezes mais risco de fracassar na escola do que crianças sem TDAH e com inteligência equivalente.
A partir da hipótese de que crianças que possuem TDAH podem apresentar melhoras significativas a partir do contato com a natureza, tanto na atenção quanto em outros sintomas desse transtorno, com ênfase na hiperatividade, é realizada no âmbito do Programa de Pós-Graduação em Ambiente e Desenvolvimento (PPGAD) da Univates a pesquisa Vivências com a natureza e o desenvolvimento cognitivo e socioafetivo de crianças com TDAH.
O estudo da doutoranda Mônica Siqueira Damasceno ocorre sob orientação da doutora Jane Marcia Mazzarino. Com parte realizada na Universidade de Aveiro, em Portugal, a pesquisa também conta com a coorientação da doutora Aida Figueiredo, do Departamento de Educação e Psicologia.
De acordo com Mônica, o objetivo é investigar uma relação inédita: como crianças com Necessidades Educacionais Específicas (NEE) são afetadas por vivências com a natureza, uma proposta de Joseph Cornell. Este estudo visa também a contribuir para que os sintomas do TDAH, como a hiperatividade, desatenção e impulsividade, sejam reduzidos, explica.
O estudo empírico foi realizado com crianças das escolas públicas do município de Crato, no interior do Estado do Ceará, região Nordeste do Brasil, que possuem TDAH, de modo a examinar se a interação com a natureza permite avanços nos processos de desenvolvimento cognitivo e socioafetivo delas. Análises preliminares apontam que a utilização desse método tem se apresentado eficiente, visto que foram percebidas mudanças no comportamento dos sujeitos, revela. Além disso, a intensidade dos sintomas do TDAH se mostrou mais tênue ao longo do desenvolvimento da pesquisa, explica Mônica.
Estudos em Portugal
Parte do doutorado de Mônica é realizada no Centro de Investigação Didática e Tecnologia na Formação de Formadores (CIDTFF) do Departamento de Educação e Psicologia da Universidade de Aveiro, em Portugal. A coorientadora, Aida Figueiredo, é docente nesse departamento e é um dos membros do Projeto Limites Invisíveis, no qual Mônica está estagiando. O Projeto Limites Invisíveis centra-se na implementação de Programas de Educação na Natureza, em torno da problemática da organização de ambientes potencializadores do desenvolvimento, da aprendizagem e do bem-estar das crianças, e especificamente em torno das potencialidades educativas dos ambientes exteriores. É um projeto inspirado nas Forest Kindergarten ou Nature Kindergarten dos países escandinavos (Forest Schools nos países de língua inglesa), conforme consta em sua descrição.
Divulgação da pesquisa em eventos científicos
O período de estudos no exterior também tem possibilitado que a doutoranda participe de vários eventos acadêmicos, apresentando sua pesquisa em alguns deles. Ela participou do IV Congresso Internacional de Dislexia e Dificuldades de Aprendizagem, em outubro, em Lisboa; do IV Seminário Luso-Brasileiro de Educação de Infância (SLBEI) e do I Congresso Luso-Afro-Brasileiro de Infâncias e Educação (Clabie), em novembro, em Aveiro; do evento Neurociência e Educação: mitos e evidências, realizado na Universidade de Coimbra, em novembro; e do Seminário de Psicologia da Educação, em Braga.
Durante as sessões temáticas do IV SLBEI e do I Clabie, Mônica apresentou a comunicação O contato com a natureza e o desenvolvimento biopsicossocial infantil. Segundo a pesquisadora, seu estudo com o grupo de pesquisa Comunicação, Educação Ambiental e Intervenções (Ceami), vinculado ao PPGAD, foi muito bem avaliado e despertou o interesse dos espectadores.