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Responsabilidade social

Mobilidade Urbana: um conceito que pode transformar a cidade

Por Ana Amélia Ritt

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Você já ouviu falar em movimento pendular? O conceito resume-se no deslocamento de um morador de determinado local a outro para trabalhar ou estudar.

Para você ter uma ideia, apenas 29,80% dos estudantes da Univates são de Lajeado. Ou seja, sendo estudante, professor ou funcionário da Instituição e morador de uma cidade que não seja Lajeado, você já participa do movimento pendular. Com cidades próximas umas das outras, o Vale do Taquari torna-se um forte exemplo de rede urbana, sendo Lajeado o polo desse sistema. Como já se pode imaginar, o fluxo intenso de veículos modifica o cenário de mobilidade.

É importante destacar a diferença entre mobilidade urbana e trânsito, porque a maioria das pessoas confunde. Trânsito é propriamente o trânsito de veículos, acabamos pensando na frota de carros. Já o conceito de mobilidade é mais abrangente, pensando na circulação de pessoas, bens e infraestrutura na cidade
Marcelo Arioli Heck, professor de Arquitetura e Urbanismo

Ana Amélia Ritt

Em 2012, o governo federal criou a Lei nº 12.587, conhecida como Lei de Mobilidade Urbana, que estabelece que todas as cidades com mais de 40 mil habitantes ou que tenham algum patrimônio histórico ou uma obra importante - por exemplo, uma hidrelétrica - devem ter um plano de mobilidade urbana para pedir recursos ao governo federal. "Se, por exemplo, a cidade quer refazer uma rótula ou construir um viaduto e quer pedir esse recurso para o governo federal, este vai solicitar o plano de mobilidade. Há facilidade de conseguir esse recurso por parte do governo porque no cenário nacional há carência muito grande de rede de infraestrutura e de conexão entre as cidades", comenta Heck.

O que é o plano de mobilidade?

O plano de mobilidade é o planejamento de um sistema da cidade que analisa o que existe e propõe o que precisa ser feito. É recomendado que todo plano - seja diretor ou de mobilidade - projete a cidade para os próximos 20 anos, por isso é importante que ele seja estabelecido em lei para não ficar restrito a uma gestão da prefeitura. Conforme o professor, quando se faz um plano de mobilidade urbana pensa-se em cenários de curto prazo (de até cinco anos), médio (de cinco a dez anos) e de longo prazo. 

A maioria dos municípios apresenta grande crescimento do que se chama de "taxa de motorização", e Lajeado não está fora desse cenário. Para se ter uma ideia, a cidade é a 6ª do Rio Grande do Sul com a maior proporção de veículos por habitante, possuindo 77,8 veículos para cada 100 habitantes. No Estado, todas as outras cidades que têm taxa de motorização maior possuem população bem menor do que a de Lajeado, com menos de 10 mil habitantes, ou seja, são cidades muito pequenas. 

Lajeado, portanto, possui uma frota muito grande e ela é, em geral, de veículos particulares, o que acarreta problemas de trânsito e de infraestrutura, gerando desgaste para a cidade e para a população.

E agora?

"Nos últimos anos o que se tem feito para melhorar a situação são obras voltadas principalmente para o trânsito de automóveis. Por exemplo, se há uma parte da cidade que está congestionada, duplica-se uma via ou se constrói um viaduto. Porém, quando se privilegia o 'andar de carro', a pessoa irá andar de carro. Isso é o que conhecemos por demanda induzida", explica Heck. Dessa forma, o professor ressalta que não se deve trabalhar especificamente com trânsito, mas, sim, com a mobilidade, que pensa em todas as situações de forma integrada e dá destaque ao transporte coletivo, uma das prioridades determinadas pela Lei de Mobilidade Urbana.

Formas simples e alcançáveis

O transporte coletivo possui um problema sério de falta de planejamento na maioria das cidades. Conforme o professor de Arquitetura e Urbanismo, ações simples podem fazer com que ele funcione melhor. "O serviço de transporte público deve conter rotas fáceis e eficientes, ou seja, o ônibus não precisa passar em todas as ruas, mas nas principais, que devem contar com boa abrangência e com a infraestrutura necessária", afirma.

Segundo Heck, as pessoas não andam tanto de ônibus porque atualmente ele não é um sistema atrativo. "Se o ônibus for mais barato ou mais rápido (de preferência mais barato e mais rápido) as pessoas irão de ônibus. No caso das bicicletas acontece o mesmo. Você não tem que esperar as pessoas andarem de bicicleta para fazer a ciclovia, você tem que fazer a ciclovia para as pessoas andarem de bicicleta. A ciclovia funciona como um incentivo, utilizando a demanda induzida para uma alteração positiva do cenário atual", explica.

De olho no vizinho

Bogotá é a capital e a maior cidade da Colômbia. Entre 1998 e 2001 Enrique Peñalosa foi prefeito da cidade e fez mudanças radicais relacionadas ao transporte, dando prioridade aos espaços públicos e restringindo o uso do automóvel. O estudante de Arquitetura e Urbanismo Eduardo Possamai fez intercâmbio em Bogotá no primeiro semestre deste ano.

Divulgação

O que mais me chamou a atenção são as calçadas largas, bem arborizadas, com espaço para passeio e ciclovias. As pessoas costumam respeitar isso, e como a maioria as utiliza, existe um sentimento de segurança em qualquer horário
Estudante de Arquitetura e Urbanismo Eduardo Possamai

O acadêmico explica que na cidade há um sistema de transporte público muito eficiente chamado Transmilênio, similar ao implantado em Curitiba. "Foram construídas vias exclusivas para os ônibus e estações ao longo delas, nas quais o passageiro ingressa e pode percorrer toda a cidade e trocar de ônibus quantas vezes quiser sem precisar pagar novamente", explica. Possamai destaca que, por haver 10 milhões de habitantes em Bogotá, há horários de pico como em qualquer lugar, porém existe uma boa variedade de opções. "Complementando o sistema de ônibus, uma grande parcela da população utiliza ciclovias, e por se tratar de uma cidade plana, a locomoção é facilitada. Além desses dois meios, neste ano começou a construção do Elevado", conta, referindo-se ao novo sistema de metrô que está sendo implantado na capital do país.

Esta matéria faz parte da edição nº 5 da Revista Univates. Confira a versão digital aqui.

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