A sustentabilidade das propriedades rurais é uma necessidade cada vez mais discutida tanto pela população quanto pelos órgãos governamentais. Vários produtores buscam se adequar a novas formas de produzir que sejam menos agressivas ao meio ambiente. Pensando nisso, o projeto de pesquisa “Sustentabilidade Ambiental em Propriedades Produtoras de Leite do Vale do Taquari” é desenvolvido nos Programas de Pós-Graduação em Ambiente e Desenvolvimento (PPGAD) e em Sistemas Ambientais Sustentáveis (PPGSAS), com coordenação da professora doutora Claudete Rempel e colaboração dos docentes Dr. Claus Haetinger e Dra. Mônica Jachetti Maciel.
Os objetivos do projeto são elaborar um diagnóstico e propostas de soluções e inovação em metodologia a partir da transferência efetiva de conhecimento para a gestão da propriedade rural, com vistas à melhoria de processos e sistemas, e interagir com os órgãos de assistência técnica, extensão rural e produtores rurais para adequar o processo produtivo às exigências legais ambientais e práticas de produção sustentáveis.
Para isso, estão sendo analisadas e acompanhadas 124 propriedades dos 36 municípios do Vale do Taquari, sendo o número de propriedades proporcional à produção de leite de cada município. A pesquisa está sendo realizada com produtores indicados pela Emater e pelas Secretarias de Agricultura dos municípios contemplados. Nas propriedades analisadas há o total de 5.242 animais, com produção média entre 15 e 25 litros de leite por dia.
“Em cada propriedade analisamos nove parâmetros, conforme apresentado no gráfico. Para cada parâmetro e subparâmetro foi atribuída uma pontuação, de acordo com o desempenho da propriedade, e o conceito que ela atinge - de péssimo a excelente. A maioria das propriedades atingiu um nível bom nos pontos pesquisados, o que corresponde a 53,2%. Porém, o número de propriedades regulares é muito próximo, com 43,5%, o que mostra oportunidade de melhorias nesses locais. Apenas 1,6% das propriedades apresentou sustentabilidade ambiental considerada ruim”, afirma Claudete.
O pior indicador da pesquisa se deu em relação ao uso da terra. “Com isso, os produtores ficam sujeitos a quaisquer intempéries. As áreas de preservação permanente (APPs) existem, porém são utilizadas até a borda, o que é um problema em uma região com enchente como a nossa”, analisa a pesquisadora. O melhor desempenho geral foi no indicador de Reserva Legal.
Quanto aos fertilizantes e agrotóxicos, o maior fator de preocupação não está no armazenamento, mas no grande uso. “Verificamos que há sobrecarga de uso de agrotóxicos, o que é incorporado por nós, pelo animal e pela água”, avalia a professora.
A água também foi um fator analisado, e o principal apontamento está em relação ao cloro, detectado em níveis inadequados. “Além disso, na análise de coliformes totais termotolerantes, tivemos níveis de bactérias acima do indicado para consumo humano e animal, o que pede atenção”, alerta Claudete.
Para cada propriedade analisada, os pesquisadores elaboraram um mapa de uso apropriado das APPs. “Um diferencial do estudo é que conseguimos mapear as espécies arbóreas presentes, que são mais de 136 até o momento. A diversidade é alta quando comparada com outros estudos já realizados”,esclarece Claudete. Os produtores e as Secretarias de Agricultura dos municípios também recebem retorno sobre o diagnóstico. “Diante da visualização dos pontos positivos e negativos da propriedade, os produtores rurais podem gerenciar sua atividade e suas práticas agrícolas consorciadas de forma sustentável”, sugere a pesquisadora.
O triênio de coleta de dados da pesquisa teve início em 2013. A partir disso, o grupo da pesquisa trabalha na análise dos dados e das amostras para dar devolutivas sobre o impacto dos fatores analisados no leite. A pesquisa teve financiamento da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio Grande do Sul (Fapergs) e do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). Mais informações sobre a pesquisa podem ser obtidas pelos e-mails ppgad@univates.br ou ppgsas@univates.br.
Parâmetros pesquisados
Dejetos
Água
APP
Reserva Legal
Agrotóxicos e Fertilizantes
Declividade
Erosão
Queimadas
Uso da Terra
Texto: Nicole Morás