Já imaginou um curso quase sem aulas expositivas, com colegas trabalhando em times e no qual o professor atua muito mais como orientador das atividades do que como protagonista do ensino? Esse cenário não é a escola ou universidade de filmes de ficção futurísticos. É uma metodologia de ensino finlandesa adotada no curso de Liderança Empreendedora e Inovação da Universidad de Mondragon, na Espanha. Foi para conhecer esse modelo que o professor Sandro Faleiro viajou, entre janeiro e fevereiro, para Bilbao e Oñati, na Espanha.
“Participei das aulas para compreender a metodologia e ver como podemos trazer isso para o Brasil, pois é um método que avança no que já fazemos em relação às metodologias ativas”, explica Faleiro. Conforme o professor, cada turma de estudantes é dividida em dois times, que formam uma empresa. Esses times desenvolvem projetos empresariais que tenham faturamento e lucro. Em cada projeto participam de seis a 10 pessoas, e cada aluno participa de mais de um grupo simultaneamente, de forma que, ao concluir, ele tenha experimentado todas as posições dentro de um projeto: líder, promoter (responsável pela comunicação), consumer (responsável pelo mercado do projeto) e responsável pela área financeira. Para cada empresa, há um professor no papel de coach que acompanha o projeto até o final da graduação dos estudantes.
“O curso é organizado em 40 horas semanais, e cada área de atividades dura de dois a três turnos (ver box). Os alunos precisam fazer cerca de 20 leituras anuais e é interessante ver que nessas sessões são os próprios alunos que cobram uns dos outros a realização das leituras”, observa Faleiro. Nas sessões de aprendizagem coletiva, que são organizadas pelos próprios estudantes, são realizados o planejamento e a análise de projetos, síntese de leituras realizadas, relatórios e autoavaliação sobre as atividades individuais realizadas na semana, avaliação de desempenho individual e do time. Já nas aulas, há estudo sobre temas de gestão, como finanças e empreendedorismo, por exemplo. Para completar a carga horária semanal, os alunos realizam atividades para a execução e a gestão dos projetos. A metodologia também conta com quatro períodos de intercâmbio, para a Finlândia, os Estados Unidos, a China e a Índia.
“Nesse modelo fica muito evidente que a metodologia aliada ao projeto das empresas gera resultados excelentes, o que dá caráter empreendedor ao curso. E, ao responderem pelas diversas áreas, nos diversos projetos, os alunos estão treinando a liderança”, resume Faleiro, acrescentando que o modelo avança no que já é realizado em relação a metodologias ativas na Univates. “O Centro de Gestão Organizacional utiliza essas metodologias desde 2010 em disciplinas como Plano de Negócios e Empreendedorismo e destaca cada vez mais o papel autônomo do estudante. Com essa experiência queremos provocar professores e estudantes da Univates para novas possibilidades em ensino”, finaliza ele.
Representante de Mondragon visita a Univates
Na última semana, o professor Aitor Lizarza Martin, da Universidad de Mondragon, visitou a Univates para conhecer a Instituição, que tem um perfil comunitário muito parecido com a universidade espanhola, e analisar oportunidades de parceria para a promoção do empreendedorismo. Conforme Martin, o projeto do curso Liderança Empreendedora e Inovação teve início em 2008 e foi implantado a partir de 2009 com a metodologia finlandesa. “Já pudemos perceber um crescimento no empreendedorismo da nossa região como um resultado direto do curso, pois os projetos são reais e já têm impacto no seu entorno. Estamos na terceira geração de estudantes com essa metodologia”, afirma ele. O professor acrescenta que 30% dos diplomados no curso da Universidad de Mondragon criaram suas próprias empresas, 40% se incorporaram a empresas já existentes e atuam como intraempreendedores das empresas em que estão empregados e de 10% a 20% seguiram carreira acadêmica.
Esse texto integra a edição 1 da Revista Univates e pode ser conferido aqui.
Texto: Nicole Morás