Algumas espécies vegetais nativas podem ter importantes potenciais para o controle biológico de pragas, como fonte de alimentos e para a produção de medicamentos. Mas, por razões culturais, elas são pouco conhecidas e exploradas. Muitas espécies são consideradas endêmicas – que ocorrem em uma região restrita – ou ameaçadas e, considerando que os ambientes naturais estão, cada vez mais, em constante degradação, muitas estão em risco de extinção. Assim, a exploração deve ser cuidadosa para que a biodiversidade não seja colocada em risco. É nesse campo que atua o grupo de pesquisa coordenado pela professora doutora Elisete Maria de Freitas.
A pesquisa intitulada “Propagação de espécies vegetais nativas regionais de importância econômica e ambiental” está vinculada ao Programa de Pós-Graduação em Biotecnologia (PPGBiotec). Atualmente, sob orientação da professora Elisete, três mestrandos pesquisam os potenciais de diferentes espécies nativas e suas técnicas de multiplicação. Pretende-se, com isso, estimular a exploração das potencialidades da biodiversidade brasileira de forma sustentável.
Uma das mestrandas é Josiane Siqueira, que trabalha com uma espécie nativa e endêmica dos campos do Bioma Pampa. De acordo com a professora Elisete, pesquisas em andamento indicam que a planta estudada por Josiane tem potencial para controle biológico de pragas. Assim, em parceria com o Programa de Pós-Graduação em Fitotecnia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs), está sendo estudada a melhor técnica para a produção de mudas, viabilizando a utilização dessa planta para o desenvolvimento de um bioproduto para uso no controle de determinadas pragas.
Conforme a professora, os testes aplicados para a propagação da espécie, iniciados em março deste ano, estão se mostrando favoráveis, pois várias mudas já foram produzidas por meio da estaquia. “Já sabemos como fazer, mas precisamos aperfeiçoar a técnica. Ou seja, definir o melhor substrato e a umidade adequada, qual a parte da planta a ser utilizada e o modo de preparo das estacas, entre outras variáveis”, explica Elisete.
A técnica de estaquia consiste na produção de mudas a partir de ramos em casas de vegetação. Outra técnica adotada para a produção de mudas no laboratório é o cultivo in vitro, realizado em condições totalmente controladas em sala de crescimento. Conforme a professora Elisete, o método da estaquia é sempre mais vantajoso em termos de tempo, trabalho e custos. Por isso, a técnica de cultivo in vitro é aplicada somente se a estaquia não der certo. Além das técnicas de propagação vegetativa adotadas na pesquisa (estaquia e cultivo in vitro), a equipe realiza testes de germinação para verificar o comportamento normal da planta no seu ambiente natural e definir estratégias para que ela germine mais rápido e com maior percentual de crescimento.
O fato de descobrir a melhor forma de propagação das espécies nativas colabora para a preservação da biodiversidade, para que os potenciais das plantas possam ser explorados de forma sustentável. “Buscamos conhecer a diversidade vegetal existente em diferentes ecossistemas do Rio Grande do Sul, e, depois de confirmar o potencial de determinadas espécies, estudar formas de reproduzi-las”, afirma Elisete.
Atualmente, muitas empresas estão voltadas para produção mais limpa e na produção de medicamentos ou alimentos a partir de plantas que tradicionalmente não eram utilizadas para isso. “No entanto, essa forma de exploração da biodiversidade deve estar sustentada na garantia de sua preservação”, ressalta Elisete. A equipe trabalha somente com espécies nativas, tendo as pesquisas iniciado em 2004, com a produção de bromélias e orquídeas, consideradas espécies ornamentais. Com a criação do mestrado, o foco mudou.
Conforme a professora Elisete, os estudos podem render em criação de produtos, dependendo da potencialidade das plantas. “Podem ser alimentos, produtos para controle biológico e até processos, como, por exemplo, a melhor forma de propagar determinadas espécies”, completa. Ultimamente, a divulgação dos resultados obtidos é realizada na forma de publicações científicas, mas a equipe pretende retomar atividades como oficinas e palestras para repassar à comunidade em geral o conhecimento obtido por meio das pesquisas.
Saiba mais sobre o PPGBiotec pelo site www.univates.br/ppgbiotec.
Texto: Tuane Eggers