Quando a inteligência artificial vai se igualar à inteligência humana? Essa foi a questão que conduziu a palestra magna de abertura do 9º Congresso de Ciência e Tecnologia do Vale do Taquari – CCTEC, na noite desta segunda-feira, dia 19, no Teatro da Univates. A atividade foi ministrada pelo cientista venezuelano José Luis Cordeiro, da Singularity University, criada a partir de uma parceria da agência espacial americana (NASA) com o Google e conhecida como a Universidade do Futuro.
Com o Teatro lotado, o evento teve início com uma apresentação musical do Coral Vocalize. Em seguida, o diretor do Centro de Ciências Exatas e Tecnológicas da Univates, professor Mouriac Diemer, o presidente do Consórcio das Universidades Comunitárias Gaúchas (Comung), Martinho Luís Kelm, e o reitor da Univates, professor Ney José Lazzari, fizeram seus pronunciamentos.
Em sua fala, o cientista José Cordeiro comentou que, no futuro, não haverá motivos para a pobreza e citou o Japão como um caso interessante nesse sentido. “É um país pequeno e pobre, mas com gente rica, graças à ciência e à tecnologia. Ao contrário do Brasil, que é um país grande e rico, mas com gente pobre”, ressaltou ele, acrescentando que tudo está mudando rapidamente, inclusive, as companhias.
Cordeiro comentou que Walt Disney vende mais do que todo o petróleo venezuelano e, ao vestir orelhas do Mickey Mouse, perguntou se o que vende é o petróleo utilizado para fazer as orelhas ou o próprio símbolo delas. “O negócio nunca está na matéria-prima, mas sim em agregar valor a ela”, complementou.
Ao citar o livro “The singularity is near”, de Ray Kurzweil, o professor disse que, na obra, é possível ver como as tecnologias mudam exponencialmente. Segundo ele, entre os anos de 2029 e 2045 teremos computadores com mais transistores do que os neurônios presentes no cérebro humano e, nesse momento, a inteligência artificial se igualará à inteligência humana, atingindo a singularidade.
O cientista explicou que nosso cérebro pensa de forma linear, mas as tecnologias crescem exponencialmente, e há diferenças gigantes nesse sentido. “Se dou passos exponenciais, cada passo é o dobro do anterior. Depois de 30 passos, caminhei um bilhão de metros e fiz 26 voltas na Terra”, disse. Para exemplificar, trouxe alguns dispositivos que armazenam informações e falou sobre suas mudanças em apenas 30 anos (desde dispositivos que armazenavam 1kb de informação até um pen drive que armazena 128gb hoje).
De acordo com Cordeiro, no futuro, todos os genomas serão moldados. “Vocês fazem parte da última geração humana que foi gerada por erro, pois no futuro nós seremos desenhados”, afirmou ele, complementando que poderemos também controlar o processo de envelhecimento. “O câncer para mim é uma doença fascinante, porque ela faz com que a célula não envelheça. Ele faz com que as células se reproduzam, e a pessoa se torna a comida para o câncer”, salientou Cordeiro, comentando sobre a empresa Calico, criada pela Google, com o objetivo de curar a morte. “Sabemos que isso é possível, pois sabemos que há células que não envelhecem, isso é apenas um problema técnico”, acrescentou.
O cientista também falou sobre as quatro tecnologias que mudarão a humanidade: a nanotecnologia, a biotecnologia, a tecnologia da informação e as ciências cognitivas. “Nanotecnologia é a engenharia perfeita: nada sobra e nada falta. Não haverá mais lixo. O lixo não existirá no futuro. Só haverá matéria-prima no lugar errado. Já a biotecnologia é a nanotecnologia viva”, destacou ele, lembrando que todas as informações biológicas são números. Conforme ele, no futuro, tudo estará conectado e, inclusive, a Google planeja que, em 2017, o planeta Terra inteiro tenha internet gratuita. Após a fala inicial de Cordeiro, houve conversa mediada pelo professor Leonel José de Oliveira.
9º CCTEC prossegue até sábado
Neste ano, a programação do evento é compartilhada com o 1º ComungTEC, o Congresso de Ciência e Tecnologia do Consórcio das Universidades Comunitárias Gaúchas (Comung). Os dois eventos buscam o aperfeiçoamento e a qualificação dos estudantes da Instituição e do Comung, além de docentes, pesquisadores e comunidade, no âmbito da ciência e da tecnologia.
As atividades ocorrem até sábado, dia 24, em diversos locais do câmpus da Univates. Entre os destaques, está a palestra-show de Thedy Corrêa, programada para esta terça-feira, dia 20, às 20h30min, no Teatro da Univates. A programação completa pode ser acessada no site do evento – www.univates.br/cctec.
Saiba mais sobre o palestrante
Cordeiro é PhD pela Universidad Simón Bolívar (USB), de Caracas, Venezuela, com doutorado no Japão, mestrado pelo Institut Européen d’Administration des Affaires (Insead), França, e mestrado e bacharelado pelo Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT). O cientista já trabalhou na Organização das Nações Unidas para o Desenvolvimento Industrial (Onudi) e no Centro para Estudos Estratégicos e Internacionais, nos Estados Unidos. Ele já visitou e trabalhou em mais de 130 países em cinco continentes.
Texto: Tuane Eggers
