Reflexões sobre as novas ruralidades no Vale do Taquari foram base da aula inaugural da área de Humanidades da Univates, realizada na noite desta segunda-feira, dia 13. O objetivo foi discutir o tema sob os pontos de vista dos campos acadêmico, tecnológico e social. A atividade foi intermediada pelos professores doutores Margarita Rosa Gaviria Mejía e Walter Aragão.
Na ocasião, o professor Aragão falou sobre o processo de mucipalização do Rio Grande do Sul. Entre os anos de 1974 e 2013, houve um aumento de 232 para 497 municípios no estado. De acordo com ele, dos 37 municípios que compõem o Vale do Taquari, apenas três são do século XIX e 60% foram criados nos últimos 30 anos.
“Ninguém se arrepende da municipalização, pois ficou melhor do que quando era distrito. Mas, também foi complicado o enfrentamento da crise, na época da desindustrialização das cidades”, explicou Aragão, acrescentando que “quem fala de crise hoje, é porque não lembra dos anos 80”. No entanto, o professor também abordou o desafio de manter os jovens no campo hoje. “Às vezes, mesmo com renda e com qualidade de vida, os jovens preferem sair do campo para ir viver na cidade”, complementou.
Após, a professora Margarita abordou as novas identidades sociais que se constroem na delimitação das fronteiras do território-município, e falou sobre a identidade com a terra, que está relacionada ao tema. “Há uma ideia de que a terra tem um valor simbólico e outra ideia é o valor municipal, quando se criam símbolos para delimitar territórios”, destacou ela.
Para ela, o que se percebe hoje é um processo de modificação da ideia de rural, sendo que, com a emancipação, as áreas rurais passaram a ser chamadas de urbanas. “A agricultura passou a ser valorizada mais de forma simbólica do que econômica. O sentimento e o valor que a agricultura têm mudaram. Se nos anos 1970 a agricultura era a principal fonte de renda, vemos que agora isso mudou”, ressaltou Margarita.
A professora falou também sobre o fluxo contrário que existe nesse sentido, já que existem muitas pessoas indo viver nas áreas rurais. “Há uma mobilidade, há um deslocamento interessante a ser pesquisado”, destacou Margarita, acrescentando que as novas ruralidades devem ser pensadas sob diferentes pontos de vista. “Há um fluxo entre rural e urbano, mas também um fluxo de ideias e de conceitos”, completou.
Em seguida, o engenheiro agrônomo do Centro de Apoio ao Pequeno Agricultor (Capa), Lauderson Holz, lembrou do saudosismo que envolve o ambiente rural. “É uma potencialidade que envolve cada vez mais as pessoas que vivem em áreas urbanas hoje”, disse.
De acordo com ele, um ponto em que o Vale do Taquari ainda deve melhorar é a diversificação de agroindústrias com outras alternativas de renda. Já que suínos, aves e leite são as principais fontes de renda das agroindústrias atualmente, alguns elementos devem ser melhor pensados nesse sentido, conforme Holz.
“Outros pontos importantes são a questão da energia elétrica, que deve ser fornecida com quantidade e qualidade para que as propriedades possam tocar suas atividades; e a questão dos dejetos, principalmente de suínos, mas também de aves e resíduos da produção de leite”, argumentou. Holz questionou sobre o que fazer com estes dejetos e como tratá-los adequadamente, já que podem contaminar a água e causar problemas maiores.
O engenheiro agrônomo também falou que o agricultor, historicamente, foi tratado de forma pejorativa, principalmente nas décadas de 1970 e 1980, quando houve o êxodo rural. “Precisamos de uma ressignificação da agricultura como a arte de cultivar alimentos”, completou.
Texto: Tuane Eggers