Lajeado – Iniciou nesta terça-feira, dia 7, o workshop “Estratégias de inovação para o Ensino Superior”. O evento, promovido pelo Consórcio das Universidades Comunitárias Gaúchas (Comung) em parceria com a Univates é voltado a gestores e lideranças das instituições associadas. O objetivo é discutir a missão estratégica e o papel que as universidades devem assumir na melhoria econômica de suas regiões diante de um cenário de mudanças sociais, culturais, tecnológicas, econômicas e políticas.
Neste primeiro dia de encontro, Fernando Borrás Rocher, vice-Reitor de Investigação e Inovação da Universidade Miguel Hernández (UMH), da Espanha, e Tonia Salinas Miralles, gerente do Parque Científico da UMH, focaram suas falas na inovação da gestão e na inovação para transmissão do conhecimento. Segundo os gestores, apesar da expansão do ensino à distância, os MOOCs (Massive Open Online Course) reproduzem uma estrutura de universidade, que já não acompanha os anseios de uma geração de estudantes conectada e seletiva. “É necessário oferecer uma formação para a vida, uma formação individualizada. Pensar em servir para atender pequenas formações compartimentadas, individualizadas, e não um ensino massivo”, comenta Rocher. Para o vice-reitor, a tendência é de oferecer módulos dentro de uma formação para que o aluno escolha e monte sua trajetória dentro do ensino superior, tendo uma formação mais multidisciplinar e focada nos interesses e habilidades do estudante.
O pesquisador trouxe também o exemplo do “gamification”, estratégia de interação entre pessoas com base no oferecimento de incentivos que estimulem a produção de conhecimento ou desenvolvimento de projetos de maneira lúdica. O uso da tecnologia como ferramenta de ensino já é considerado intrínseco ao processo de ensino. Um exemplo de aplicativo que promove inovação em sala de aula é o Evernote, administrador de conteúdo que permite interação entre professor e aluno organizando dados e auxiliando na produção de conteúdo.
Em sua fala sobre inovação na gestão, a pesquisadora Tonia reforçou a evolução da competitividade ao longo da história da administração: primeiro, as empresas contavam com recursos naturais como diferenciais. Depois passaram a dar enfoque na gestão de custos e com o aumento da concorrência, na qualidade dos produtos. Hoje o grande diferencial é a capacidade de inovação, já que todos os demais recursos são comuns a todos. Para Tonia, a inovação provém das pessoas que fazem parte da organização. “Não há desenvolvimento coletivo sem desenvolvimento individual primeiro. É preciso transformar os chefes em líderes, fidelizar as pessoas à causa da instituição. Precisamos ter dentro das organizações líderes que inspirem, promovam trabalho em equipe, se preocupem com as pessoas. Para inovar é preciso sair da zona de conforto”, comenta.
Tonia trouxe a experiência da UMH com a promoção da Semana da Inovação na Gestão. A Universidade mantém um comitê de inovação que agrupa 57 profissionais que possuem grande conhecimento das estratégias da UMH. Este comitê é responsável por analisar, debater, estabelecer critérios para as ideias propostas e indicar moderadores que orientam os grupos de trabalho durante a semana da inovação. A metodologia utiliza grupos multidisciplinares para, depois de escolhidas as melhores ideias, lapidarem a mesma. “Algumas premissas devem ser sempre respeitadas para que o trabalho dos grupos aconteça da melhor forma: vontade de colocar-se à disposição, toda ideia é bem-vinda, a ideia não pertence a alguém, pode e deve-se construir a partir da ideia do outro e é proibido criticar. Este é a base para conseguirmos imersão total no processo inovativo”, analisa Tonia. “É preciso romper. Não podemos fazer as coisas sempre da mesma forma. Inovação tem a ver com fazer coisas de muitas formas, de criar novos processos”, enfatiza.
Para Robinson Henrique Scholz, Coordenador da Agência de Pesquisa e Desenvolvimento da Unilasalle, o evento trouxe no primeiro dia debates importantes para se repensar a sala de aula e a gestão da inovação dentro das universidades. “O uso de tecnologias ou modelos tecnológicos de educação traz novas perspectivas para o ensino. O próprio uso de audiovisuais na promoção de estudos coletivos não focados no professor mas sim num processo coletivo de geração de conteúdo foram tópicos que se destacaram nas falas de hoje”, explica. A inovação tem papel primordial na academia. O professor com seus conhecimentos não faz nada sozinho, a cocriação que a tecnologia permite, a disseminação da ciência são temas importantes a serem tratados nas universidades”, defende. Para Scholz, o case da semana da inovação da UMH mostra que as ferramentas tecnológicas dão suporte à geração de novas formas de criar. “Toda a tecnologia que foi discutida hoje serve para disseminar a inovação gerada, o conhecimento e alavancar a inovação na academia. Muitas das nossas universidades estão trilhando este caminho de transferência de tecnologia e fomento ao empreendedorismo”, finaliza.
Continuidade
Nesta quarta e quinta-feira o evento prossegue com os professores da UMH. Serão discutidas as relações com a pesquisa e a transferência de tecnologia e o impacto e promoção de inovação na sociedade. Confira a programação:
08/04/2015
• 8h30min às 12h30min: Research: inovação para a geração do conhecimento
• 12h30min às 14h: Almoço
• 14h às 18h: Spin-Offs: inovação para a transferência do conhecimento
09/04/2015
• 8h30min às 12h30min: Startups: inovação para a transformação da sociedade
• 12h30min às 13h30min: Almoço
• 13h30min às 17h30min: Science Park: inovação para a geração e o impulso de cluster de conhecimento
Saiba mais
A ideia de trazer os gestores da Universidade Miguel Hernández surgiu a partir do intercâmbio realizado pelo MBA em Gestão de Instituições de Ensino Superior, promovido pelo Comung. De 8 a 19 de novembro de 2014 as instituições participaram do módulo internacional do curso. O grupo buscou nas instituições europeias exemplos de sustentabilidade dos projetos e dos programas; estratégias para o desenvolvimento da pesquisa, inovação e transferência de tecnologia; articulação da gestão do ensino, da pesquisa, da extensão e da cooperação internacional; redes de cooperação internacional no ensino, na pesquisa e na inovação e seus efeitos nas instituições, além de analisar o case de cada instituição dentro de suas peculiaridades.
Entre as instituições visitadas estava a UMH que chamou a atenção pela gestão adotada. “A forma de gestão que a Miguel Hernández adota é muito eficaz, eles têm indicadores muito claros tanto do acompanhamento das produções científicas quanto de melhorias educacionais e alternativas de ensino. Investem em metodologias ativas de aprendizagem e em novas ferramentas de ensino à distância”, explica a Diretora do Instituto de Ciências Sociais Aplicadas da Feevale, Maria Cristina Bohnenberger, uma das alunas do curso. A partir do intercâmbio, diversos contatos e parcerias com as instituições europeias foram estabelecidos.
Sobre o Comung
Integram o Consórcio a Feevale, IPA, PUCRS, UCPel, UCS, Unicruz, Unifra, Unijuí, Unisc, Unisinos, Unilasalle, Univates, UPF, Urcamp e URI. O Consórcio atende mais de 50%dos universitários gaúchos, oferecendo mais de 600 cursos de Graduação. São mais de 208 mil alunos, atendidos por quase 9 mil professores e mais de 10 mil funcionários. Mais de 2,8 mil doutores atuam nos 44 campi que abrangem praticamente todos os municípios do RS, promovendo o desenvolvimento e a qualificação do povo gaúcho. O Comung também investe em pesquisa e inovação, mantendo 55 cursos de doutorado.
Mais informações podem ser obtidas pelo e-mail comung@comung.org.br ou telefone (51) 3714-7002.
Texto: Elise Bozzetto
