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Professores avaliam manifestações no país sob o olhar da Sociologia e da História

Postado em 03/07/2013 14h38min

Por Tuane Eggers

Nas últimas semanas, as ruas de diversas cidades brasileiras foram tomadas por inúmeras manifestações. Os primeiros protestos aconteceram em Porto Alegre, no fim do mês de março, devido ao aumento da tarifa do transporte público. O movimento se estendeu quando a tarifa aumentou na cidade de São Paulo, fazendo a população tomar as ruas. No entanto, o que levou milhões de manifestantes a protestar em todo o país parece ser muito mais do que isso. 

E não foi por acaso que a maior parte das manifestações aconteceu no momento em que o país sediava a Copa das Confederações. Conforme a socióloga e professora da Univates Shirlei Inês Mendes da Silva, os protestos nesse momento buscaram, provavelmente, uma internacionalização dos acontecimentos.

Após a recente democratização do Brasil e uma economia estabilizada pelo Real, por políticas distributivas e uma democracia representativa, Shirlei considera que o Brasil começou a brilhar internacionalmente com o governo Lula, chamando a atenção da mídia e de especialistas internacionais. “Parceiros internacionais chegavam ao Brasil visualizando futuros negócios e a indústria automobilística, por exemplo, responsável por quase um terço da produção industrial, ampliou seu escopo rapidamente”, explica Shirlei.

Segundo a professora, o governo brasileiro, já sob a liderança da presidenta Dilma, apostou nesse modelo de crescimento econômico subsidiando o financiamento de veículos de forma generosa. “O resultado disso nós vemos nas cidades, que se tornaram intransitáveis. A neurose urbana crescia a olhos vistos. Penso que a questão da mobilidade urbana foi o estopim para explicar a (re)emergência da política no Brasil do século XXI”, afirma.

Conforme a socióloga, essa não foi, entretanto, a única causa, pois a complexidade social exige também uma complexidade analítica. “Junto à falta de mobilidade urbana, parece que a falta de mobilidade social, ocasionada pela concentração de renda e pela crescente corrupção no país, e a discussão que circulava nas redes digitais fomentaram um caldo efervescente que trouxe a política para as ruas”, observa.

Shirlei acredita que essas e outras questões ajudam a entender o retorno da política às ruas do Brasil. “O desafio agora é canalizar essas demandas e organizar caminhos ou políticas públicas para responder ao povo brasileiro”, comenta ela. A socióloga considera importante valorizar a volta da política às ruas, além do retorno das discussões e a participação dos jovens. Shirlei entende que isso impulsiona o movimento e revitaliza a crença de que precisamos da política para viver em sociedade.

 

Contexto histórico das manifestações

O professor de História da Univates Mateus Dalmáz considera que os protestos pelo Brasil representam tanto um conjunto de descontentamentos da sociedade civil em relação ao Estado quanto um fenômeno midiático, uma vez que a exposição nas mídias interativas e de massa foi grande. O historiador percebe que são muitos os focos de descontentamento nas manifestações atuais, e faz uma analogia com protestos de décadas passadas.

Segundo ele, nos anos 1980, por exemplo, a sociedade civil engajou-se por algo mais objetivo: a volta da democracia. “Um processo lento e gradual de luta pela normalização democrática envolveu a participação dos mais diferentes atores sociais, como políticos, artistas, intelectuais, jornalistas, atletas, estudantes, entre outros. A marcha nas ruas pelas 'Diretas Já!', em 1984, foi a expressão simbólica mais significativa daquele processo”, lembra.

Já no início dos anos 90, as manifestações dos “caras pintadas” contra Collor também tiveram um foco específico: o impeachment do presidente. “Embora não tenha contado com ampla participação da sociedade brasileira (os manifestantes eram na maioria estudantes) nem tenha sido resultado de um processo longo e gradual como no caso da luta pela democracia, as marchas de 1992 expressaram simbolicamente o fim de um governo marcado pela corrupção”, ensina Mateus.

Para ele, atualmente protesta-se contra diversos aspectos, o que pode repercutir em poucos resultados concretos. Em Porto Alegre, no entanto, notícias mostraram a articulação entre prefeitura e estado para diminuir o valor das passagens do transporte público na capital. “Trata-se de um resultado concreto. É preciso que haja mais repercussões objetivas para que os protestos não fiquem sem resultados políticos”, completa.

 

Texto: Tuane Eggers

Tuane Eggers

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