Quando desenvolveu a pesquisa “Análise de criticidade da vegetação dos sistemas ciliares do rio Taquari”, há mais de uma década, o professor de Ciências Biológicas da Univates doutor André Jasper não imaginava o quanto seu trabalho seria importante para a recuperação de mais de 1,9 milhão de metros quadrados de mata ciliar das margens do rio Taquari, tornando-se, inclusive, um projeto inédito no país.

A luta iniciava no ano de 2000, com a criação do “Fórum Permanente sobre Mata Ciliar”, uma parceria da Univates, Emater/Ascar, Departamento de Florestas e Áreas Protegidas (Defap), Promotoria de Justiça, entre outras entidades. Discutia, na época, a situação na qual se encontravam os sistemas ciliares do Vale do Taquari com o objetivo de adequá-los às exigências do Código Florestal Brasileiro. “Por um processo histórico urbano e rural, a realidade regional era diferente do que a lei exigia, e a metragem de preservação de áreas permanentes não era seguida. O Fórum foi o caminho em direção à legislação”, explica Jasper.

A definição da metragem ideal de Áreas de Preservação Permanente (APPs) pelo Código Florestal limitava-se, portanto, à teoria. “O que era usado na Amazônia era utilizado para a região do Vale do Taquari também. Mas o correto é que haja um estudo específico de cada local. Naquele momento, não havia um estudo científico que avaliasse a metragem ideal de mata ciliar”.

Após diversos debates durante os fóruns, iniciou-se, em 2002, uma pesquisa na Univates com a proposta de avaliar as diversas condições dos ambientes ciliares, como solo; forma da margem; risco de inundação; ocorrência de vegetação nativa, entre outros. Tudo isso foi apontado em uma tabela que estabelecia os pontos críticos de recuperação da mata, desde os mais problemáticos até os níveis mais estáveis. A pesquisa foi encabeçada pelo professor André Jasper, em parceria com o engenheiro agrônomo da Emater/Ascar Álvaro Mallmann, com o auxílio dos bolsistas Cátia Gonçalves, Émerson Musskopf e Juliane Bruxel, e disponibilizada ao Ministério Público (MP) e ao Defap.

Essa pesquisa deu origem ao projeto “Corredor Ecológico do Rio Taquari”, criado em 2008 e liderado pelo MP, com o principal objetivo de implementar ações que resultem na proteção dos recursos hídricos, minimizando o impacto ambiental das áreas ciliares do rio. “Não imaginava que, após muitos anos de pesquisa, o projeto tivesse essa repercussão, mas como se trata de um trabalho acadêmico-científico sempre se teve a esperança de que ele fosse aplicado”, confessa Jasper.

O professor acrescenta que a universidade não tem como função básica aplicar suas pesquisas, mas é interessante quando há essa integração entre a academia e a comunidade. "É importante que a sociedade procure a Univates e aplique nossas pesquisas. O projeto do corredor ecológico é um exemplo que deu certo e beneficia a população, tornando-o inédito no país pelo fato de integrar universidade e sociedade”.

 

Encontro entre Univates e Ministério Público retoma situação do Projeto

Para mostrar o atual estágio do Projeto e as atividades que estão sendo realizadas, ocorreu, recentemente, encontro entre Univates e Ministério Público, com a presença do vice-reitor, Carlos Cândido da Silva Cyrne, dos professores Claudete Rempel e André Jasper, da Promotora de Justiça e Coordenadora do projeto “Corredor Ecológico do Rio Taquari”, Mônica Maranghelli de Avila, da bióloga Ângela Schossler, e do biólogo da Secretaria do Meio Ambiente de Estrela e professor da Univates Émerson Musskop.

Na ocasião, foi reconhecida a importância da Univates nesse processo e solicitada a ampliação do trabalho na academia. “Queremos trazer o rio de volta a uma condição saudável e estudar o papel de cada entidade envolvida, além de analisar o que estamos fazendo e verificar cientificamente o que podemos melhorar”, enfatiza Musskopf.

Ainda, segundo a promotora Mônica, o Projeto do Corredor Ecológico do Rio Taquari é inédito no país pela parceria e envolvimento dos municípios integrantes (General Câmara, Venâncio Aires, Taquari, Cruzeiro do Sul, Lajeado, Estrela, Colinas, Bom Retiro do Sul, Arroio do Meio, Encantado, Roca Sales, Muçum e Santa Tereza).

 

Texto: Ana Paula Vieira Labres