Um estudo inédito sobre a ocorrência de incêndios na Antártica há 75 milhões de anos foi divulgado na manhã desta quarta-feira, 20, em coletiva de imprensa realizada pelo Museu Nacional. Entre o grupo de 11 pesquisadores que integraram a pesquisa está o professor doutor André Jasper, vinculado ao Programa de Pós-Graduação em Ambiente e Desenvolvimento (PPGAD) da Universidade do Vale do Taquari - Univates. Jasper pesquisa paleobotânica e paleoincêndios no PPG da Universidade.
O estudo foi liderado pela pesquisadora doutora Flaviana Jorge de Lima, da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), que atua com parcerias com o PPGAD. Também integra a pesquisa o diretor do Museu Nacional, o paleontólogo doutor Alexander Kellner. O estudo foi publicado na revista Polar Research.
A descoberta aconteceu durante a Expedição Antártica Brasileira do verão 2015-2016, em afloramentos da Formação Santa Marta, unidade geológica que ocorre na parte nordeste da Ilha James Ross, Península Antártica. Os fósseis coletados chamaram a atenção dos pesquisadores por serem fragmentos de plantas com características de carvão vegetal, mas que estavam desgastados devido ao tempo de exposição.
O professor André Jasper explica a importância do estudo. "A ciência é feita a partir da construção de hipóteses e precisamos de provas e fatos para confirmar aquilo que inferimos inicialmente a partir do que outras pessoas já pesquisaram. A Antártica já foi completamente diferente do que é hoje. Tínhamos indícios de que aconteciam paleoincêndios no continente, mas não tínhamos provas - agora temos. O pesquisador também aponta a relação entre os paleoincêndios e as mudanças climáticas pelas quais o mundo passa atualmente. Estudos de tempo profundo estabelecem paralelos com o que vivemos atualmente e com a ação humana, explica o pesquisador.
Essa descoberta mostra que as variações climáticas que ocorreram ao longo do tempo trazem profundas mudanças no planeta como também em toda a biota. Isso acende um importante alerta diante das mudanças climáticas que são evidentes na atualidade,explica o paleontólogo Alexander Kellner. A dinâmica paleoflorística da Antártica é essencial para a compreensão das mudanças que ocorreram nos ambientes de alta latitude do hemisfério sul durante o Cretáceo. Afinal, nesta região também é possível visualizar uma exuberante vegetação dominada por coníferas (gimnospermas) que foi gradualmente substituída por uma assembleia dominada por angiospermas (plantas com flores e frutos). Agora os pesquisadores estão focados na busca de novos registros de paleoincêndios em outras localidades da Antártica, complementa o pesquisador.
Também participou da pesquisa e da coletiva de imprensa o pesquisador alemão professor doutor Dieter Uhl, vinculado ao Instituto de Pesquisa Senckenberg e professor visitante do PPGAD. Segundo o professor, os incêndios paleobotânicos são investigados há mais de 200 anos nos países da região Norte do globo terrestre. Na região Sul existe alta densidade de materiais, mas ainda precisamos de mais dados e mais pessoas em campo e na pesquisa no Brasil e na Antártica para podermos ter dados comparativos, observou ele sobre os achados divulgados e o conhecimento disponível em escala mundial.
O material coletado e que registra a ocorrência dos paleoincêndios é associado às coníferas, plantas que têm entre as representantes as araucárias atuais. Esse momento da história do planeta é muito importante para a compreensão da evolução das plantas atuais. Ainda não sabemos se algumas plantas foram selecionadas evolutivamente por possuírem adaptações para resistir e se recuperar do fogo, mas só vamos poder dizer isso depois de coletar mais material, voltar mais ao campo, fazer novas análises e continuar explorando essa temática, defendem os pesquisadores.
Instituições
Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Museu Nacional/UFRJ, Universidade do Vale do Taquari (Univates), Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (Unirio), Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), Centro Paleontológico da Universidade do Contestado (Cenpaleo), Universidade Regional do Cariri (Urca) e Senckenberg Forschungsinstitut und Naturmuseum Frankfurt (Alemanha).
Autores
Pesquisadores Flaviana Jorge de Lima, Juliana Manso Sayão, Luiza C. M. de Oliveira Ponciano, Luiz C. Weinschütz, Rodrigo G. Figueiredo, Taissa Rodrigues, Renan Alfredo Machado Bantim, Antônio Álamo Feitosa Saraiva, André Jasper, Dieter Uhl e Alexander W. A. Kellner.