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Notícias

17 Fevereiro de 2020

Os efeitos do surto de coronavírus na sociedade chinesa

Os efeitos do surto de coronavírus na sociedade chinesa
 
Os chineses não são ligados a preceitos religiosos, mas as superstições são fortes e ligadas ao budismo e ao taoísmo. 2020 é Ano do Rato, primeiro animal do horóscopo chinês: é  um ano de mau agouro para os supersticiosos, pois é gengzinian, que acontece a cada 60 anos no calendário lunar. A Guerra do Ópio (1840), a invasão de Pequim pela Aliança das Oito Nações (1900) e a Grande Fome (1960), são exemplos de fatos ocorridos no gengzinian. E 2020 iniciou de uma maneira para justificar as superstições.
 
A propagação do coronavírus em Wuhan modificou a realidade do país e alarmou o mundo todo. É uma situação inédita com muitas diferenças em relação à gripe A ou ao surto de SARS.
 
A rede social chinesa Weibo ajuda a entender o impacto deste surto na mentalidade social. Isolados em casa, muitos chineses estão preocupados e levantam questionamentos “esquecidos” desde 1989. O terremoto de 2008 (com mais de 60 mil vítimas fatais) e a explosão no porto de Tianjin em 2015 geraram mais solidariedade do que críticas. Os protestos em Hong Kong e os opositores do governo foram fortemente criticados pela população chinesa. Neste momento, comentários apoiando as atitudes do governo em relação ao surto diminuíram. A menos que você procure nas fontes oficiais, controladas pelo próprio governo.
 
Alguns chineses dizem que o governo os trata como jiucai: o povo é como a cebolinha, cultivado e ceifado aos molhos. A avançada engenharia, que levantou hospitais em dez dias, não convence muitos dos doentes a irem para estes hospitais. Isso porque eles temem que sejam apenas campos para ceifar jiucai. Entre os 11 milhões de habitantes de Wuhan, há diversas pessoas com outras doenças que não estão recebendo tratamento devido ao foco no surto. A opinião pública é de que a tentativa de controlar o vírus relativizou as tentativas de salvar vidas. As três primeiras semanas deste gengzinian já mostram à sociedade chinesa alguns dos maiores desafios que serão enfrentados neste novo ciclo.
 
Daniel de Souza Dutra
Professor de História
Estudante da Língua e Cultura Chinesa

 

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