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Notícias

21 Novembro de 2016

Arandu Arakuaa, a banda que canta rock em tupi-guarani

A música começa com uma viola e vai num crescendo, em que entram chocalhos, depois bateria. E de repente surge uma voz feminina cantando suavemente em tupi-guarani para pouco depois virar um vocal gutural. Death metal, trash metal, música folk... Enfim, nada de rótulos! Heavy metal com música indígena e outros ritmos regionais brasileiros. Esta é a mistura que faz a banda brasiliense Arandu Arakuaa, formada por Zhândio Aquino (guitarra, viola caipira, teclado, maracá, flautas, apito e vocal), Nájila Cristina (vocal), Saulo Lucena (baixo) e Adriano Ferreira (bateria, percussão e maricá).

 

O grupo canta suas músicas nos idiomas tupi-guarani, akwê xerente, xavante e português, com as letras enfocando principalmente o cotidiano das aldeias indígenas, rituais de passagem e lutas por terra, mostrando tudo de forma mística e poética a fim de estimular a reflexão. Arandu Arakuaa em tupi-guarani significa “Saber dos ciclos do céu” ou “Sabedoria do cosmos”. Formada em 2011, está lançando seu segundo CD, Wdê Nnãkrda. O primeiro é Kó Yby Oré, de 2013.

 

 

Zhândio Aquino nasceu em Tocantins em 1979, onde viveu até os 24 anos, convivendo com várias tribos e tendo contato com a música indígena e com músicas regionais brasileiras (baião, catira, cantiga de roda, vaquejada). Ao mesmo tempo curtia heavy metal, especialmente Metallica, Sepultura, Pantera e Black Sabbath. Em 2005 se mudou para Brasília, logo após ter se formado em pedagogia. Tentando se enturmar, Zândhio conta que chegou a fazer parte de algumas bandas no Distrito Federal. “Mas saía porque não conseguia incluir a temática indígena nas composições em nenhuma delas”, lembra. Então começou a pensar em fundar a sua própria banda. “Foi um processo muito longo, até encontrar as pessoas certas.” O processo se deu pela Internet para achar os outros integrantes.

 

O primeiro a entrar foi o baterista Adriano, que já conhecia o Saulo. Então o Adriano convidou o Saulo. “Depois apareceu a Nájila. Ela era cantora de death metal. Vi o timbre dela, abençoado. Enfim, quem entrou trouxe sua bagagem musical”, relembra Zândhio.  E o grupo é uma incrível panela de diversidade. “Além de mim, que nasci no Tocantins e sou descendente de índios, temos integrantes filhos de nordestinos. Tudo isso gera uma série de questionamentos por fugir do padrão do branquelo cabeludo”, conta Zândhio. Ele é o principal compositor da Arandu Arakuaa. “Tenho as ideias, primeiro as letras, depois o instrumental”, explica.

 

Zhândio criou a sua própria guitarra de dois braços para facilitar a constante troca de ritmos das músicas. “O braço superior é uma viola caipira, que traz o lado regional, e o de baixo é uma guitarra, o lado agressivo”. O músico afirma que a ideia inicial era cantar em xerente. “Por uma questão pessoal, de onde vim, uma coisa bem romântica... Minha avó é indígena, eu morava perto de aldeias e sempre tive um contato estreito com o dia a dia deles”, conta. Mas após pesquisas, Zhândio conta que encontrou no tupi-guarani uma língua com conexão muito forte com a história do Brasil. “O brasileiro tem esta identificação com o tupi, mas sempre abrindo para outras línguas indígenas brasileiras”, conta.

 

Não falando fluente os idiomas indígenas, Zhândio revela que utiliza uma gramática de tupi-guarani para compor as letras, assim como um amigo traduz para o xavante outras composições. “Eu fui aprender o tupi depois de adulto. Eu fui aprendendo a língua com colegas. E como gosto muito de história, peguei alguns poemas em tupi do José de Anchieta para me aprofundar”, conta.

 

Como não poderia deixar de ser, a união das músicas indígenas com o heavy metal do Arandu Arakuaa acabaram fazendo com que, volta e meia, ela seja comparada ao clássico disco do Sepultura Roots, lançado em 1996. Porém Zhândio descarta esta comparação. “O Roots tem referências indígenas apenas na capa do álbum e em uma de suas faixas. O estilo musical usado pelo Sepultura no álbum é majoritariamente afro-brasileiro e isso ainda causa confusão nos fãs”, analisa o músico.

 

Em seu disco Wdê Nnãkrda, a banda apresenta cinco músicas no idioma akwê xerente, três em tupi, duas em xavante e uma em português. E conforme Zhândio, “o mais difícil para os fãs é entender as letras da banda. Uma das soluções para se fazer entender foi legendar todos os clipes disponíveis no YouTube. A banda tem um trabalho quase artesanal. Os integrantes ainda não conseguem viver só de música. E o disco foi gravado de forma independente, com as vendas sendo feitas por meio das redes sociais e nos shows, que ainda não são muitos. Afinal, o estilo adotado pela Arandu Arakuaa ainda sofre com o estranhamento do público. Um estilo, afinal, original.

 

Fonte: Correio do Povo

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