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Professora relata histórias de Timor-Leste

Postado em 13/04/2012 13h54min

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A professora e socióloga do Centro de Ciências Humanas e Jurídicas (CCHJ) da Univates Shirlei Mendes da Silva foi selecionada para lecionar durante o ano letivo de 2012 na Universidade Nacional de Timor-Leste (UNTL). Ela envia notícias periódicas das atividades desenvolvidas nesse país.

Confira os últimos relatos:

Balibó

Balibó é uma pequena cidade de Timor-Leste. Aqui aconteceu um dos tantos massacres durante a invasão da Indonésia ao pequeno território timorense. Esta história transformou-se em um filme australiano, com o mesmo nome: Balibó. A história chegou à imprensa internacional devido à morte de cinco jornalistas australianos. Cinco brancos em me io a milhares de negros e pardos que aqui morriam. Isto aconteceu no ano de 1975. Época da Guerra Fria: o bloco capitalista temia a expansão comunista a partir da Revolução Russa, ocorrida em 1917. Para os americanos do norte, os processos de independência do mundo colonial na Ásia e África traziam embutidos a ideia de conspiração comunista. Porém, sabe-se que, em Timor, a luta pela independência e a formação da Frente de Libertação Nacional (Fretilin) estavam bem distantes da leitura marxista. Segundo o atual presidente Ramos-Horta, raras lideranças timorenses conheciam a obra de Karl Marx.

Realidade e ficção misturavam-se e a propaganda anticomunista tomava conta do mundo ocidental. A hegemonia dos Estados Unidos da América após a Segunda Guerra Mundial tornava-se inquestionável, e a indústria bélica crescia assustadoramente em todo mundo.

Na América do Sul vivíamos a recente Revolução Cubana (1959) e o auge das ditaduras do Cone Sul: Brasil, Argentina, Chile, Uruguai, Paraguai. Mera coincidência? Não, os estudos comparados da História, Sociologia, Antropologia e Ciência Política mostram que, na verdade, havia um planejamento elaborado minuciosamente pela Casa Branca americana. A “onda vermelha comunista” espalhava-se rapidamente pelo mundo, ameaçando a hegemonia capitalista. Portanto, defender a ideologia e a liberdade do “Mercado” era uma tarefa urgente. E a Guerra Fria chegava à América, à Ásia e à África.

As lutas colonialistas que emergem a partir dos anos 60 assumem a marca da divisão ideológica deste período. Basta olhar a história da independência de países como Moçambique, Angola, Guiné-Bissau, Timor-Leste.

Aqui em Timor-Leste a libertação e a autodeterminação geraram lutas terríveis, narradas minuciosame nte no Relatório da Comissão de Acolhimento, Verdade e Reconciliação (CAVR) – Chega!

 

A antiga prisão de Balide, em Díli

Esta semana visitei a Comissão de Acolhimento, Verdade e Reconciliação – CAVR – ( www.cavr-timorleste.org ), em Timor-Leste. Trata-se de um memorial inaugurado em 2005, nas dependências da antiga prisão de Balide. As instalações foram reconstruídas com recursos estrangeiros, havendo uma exposição de fotos e histórico da resistência à ocupação indonésia em Timor-Leste, uma biblioteca com um acervo de obras sobre Timor e uma livraria.

A parte onde ficavam as celas dos prisioneiros foram reformadas, mas manteve-se o formato original, inclusive nas “celas escuras”, onde havia uma minúscula janela de não mais que 20 cm de altura por 60 cm de largura, colada ao teto. Numa das paredes, leio a frase que ficou gravada: “ se não existisse esperança não estaríamos nesta luta ”...

Penso em quem escreveu esta frase, como riscou a parede, por que teria escolhido estas palavras...Tantas perguntas que não podem ser respondidas.

A funcionária que me acompanha relata como eram tratados os presos políticos, fala das torturas ali executadas e descritas no Relatório da Comissão de Acolhimento, Verdade e Reconciliação (CAVR). E lembro das histórias da tortura no Brasil, durante a ditadura militar nos anos 60 e 70. A história se repete, em outro lugar, em outro contexto, mas, parece, com o mesmo fundamento: a luta pela liberdade, essa tal liberdade...

Shirlei Mendes da Silva
de Díli, Timor-Leste

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