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Em busca da qualidade ambiental

Postado em 23/12/2016 08h16min

Por Artur Dullius

Com área de 282 mil km², o Rio Grande do Sul apresenta diversos tipos de vegetações espalhados pelo seu território, com predominância da Mata Atlântica na metade norte e do bioma Pampa na parte sul. Porém, assim como as demais regiões do país, esses ambientes também sofrem com a constante fragilização de seus habitats. Dentre os fatores agravantes dessa destruição destacam-se os elevados números de desmatamentos e a abertura de novas áreas de agricultura, pecuária ou implantação de centros urbanos, trazendo consigo diversas consequências, como o desequilíbrio ecológico, a perda de biodiversidade e a degradação dos ambientes aquáticos.
 
Preocupada com essa situação, a Univates, por meio do Programa de Pós-Graduação em Ambiente e Desenvolvimento (PPGAD), realiza a pesquisa “Efeitos da estrutura da paisagem sob populações animais e humanas”. O estudo busca identificar a influência da distribuição espacial da paisagem (áreas urbanas, agricultura, florestas, pastagens, cursos de água) sobre as comunidades animais, mostrando como a alteração de um ambiente pode ter impacto direto na diversidade ambiental. Para isso, um inventário, com diferentes espécies de libélulas, foi desenvolvido, desempenhando um valioso papel na conservação desses remanescentes florestais. 
 
Conforme o coordenador da pesquisa, Eduardo Périco, para a obtenção das espécies, são realizadas 12 coletas anuais, três por estação, sendo os pontos de coleta concentrados no entorno de rios, lagos e locais de água permanente ou intermitente. “Depois do processo de captura dessas espécies, elas são levadas ao laboratório, onde é realizado o procedimento de identificação e a análise estatística para o relacionamento com o ambiente de entorno. A partir disso, são comparados os grupos coletados em diferentes lugares para ver se apresentam diferenças entre eles e, então, com esses apontamentos, busca-se identificar áreas de fragilidade ambiental e áreas aptas para manutenção da fauna”.
 
Durante o estudo já foram identificadas cerca de 60 espécies de libélulas, sendo 20 delas nunca descritas para o RS e pelo menos duas inéditas. Dentre elas, um seleto grupo de 20 espécies indica a qualidade ambiental das regiões, determinando se está prejudicada, em situação normal ou boa. “Com os resultados já coletados conseguimos chegar à conclusão de que as regiões com matas plantadas (eucalipto e araucária) apresentaram maior diversidade de espécies generalistas. Por outro lado, as regiões caracterizadas pela mata nativa têm uma maior quantidade de libélulas consideradas especialistas, que necessitam de habitat intacto”, complementa Périco.
 
Diante disso, o pesquisador afirma que, quando confirmada a utilização inadequada do solo, é realizado um movimento de conscientização com a comunidade local, caminhando de maneira conjunta com o fator socioeconômico local. “Sabemos que é difícil conseguirmos retornar ao nível ideal, mas precisamos chegar o mais próximo dele. É necessário fazer com que os organismos e o ambiente socioeconômico possam andar de maneira conjunta”. 
 
O professor ressalta ainda a interdisciplinaridade do projeto, destacando que a pesquisa conta com a participação de biólogos, antropólogos e geógrafos, pois há a necessidade de estudar a paisagem cultural e entender o ambiente no qual o homem está inserido. “Um índio, por exemplo, entende o ambiente de forma diferente do europeu, e isso afeta diretamente na forma como a população trata essa paisagem. O gaúcho do Pampa também tem uma identificação cultural muito forte com a paisagem, que está diretamente ligada aos espaços abertos e ao uso do solo para pecuária. A introdução da silvicultura (plantação para indústria de celulose) descaracterizou o Pampa e a identidade do gaúcho dessa região”, salienta. O projeto é financiado pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) e pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPQ).
 
Parceria Internacional
A pesquisa conta também com parceria da Universidade de Halmstad, da Suécia. Conforme Périco, a interação entre as duas instituições se apoia basicamente na comparação entre os resultados coletados no Brasil e no país sueco. “Lá eles fazem uma forma de manejo do recurso natural praticamente perfeita. É um sistema que o brasileiro pode usar como espelho. A questão não é manter o ambiente intocado, mas utilizá-lo de maneira racional, alternando períodos de uso e de descanso, para dar tempo de regeneração da paisagem original”, afirma o pesquisador. 
 
Texto: Artur Dullius
Durante o estudo já foram identificadas cerca de 60 espécies de libélulas, sendo 20 delas nunca descritas para o RS

Samuel Renner

Durante o estudo já foram identificadas cerca de 60 espécies de libélulas, sendo 20 delas nunca descritas para o RS

Samuel Renner

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