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Professora que leciona em Timor-Leste fala sobre retorno ao Brasil

Postado em 05/11/2012 15h12min

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A professora e socióloga do Centro de Ciências Humanas e Jurídicas (CCHJ) da Univates, Shirlei Mendes da Silva, foi selecionada para lecionar durante o ano letivo de 2012 na Universidade Nacional de Timor-Leste (UNTL). Ela envia notícias periódicas das atividades desenvolvidas nesse país.

Confira o último relato:

Pensando em voltar…

 

Daqui a um mês retorno ao Brasil e, lentamente, começo a me despedir de Timor-Leste. Meu olhar já é um olhar nostálgico, principalmente quando olho para meus alunos na Universidade Nacional de Timor Leste (UNTL). Finalmente, decorei o nome de todos… Com eles dividi meus dias, aprendi e ensinei, sorri e chorei. Chorei quando recebi meu primeiro tais, de minha aluna Zélia, que aprendeu a tecer com a mãe. O tais é o tecido tradicional dos timorenses, em qualquer reunião oficial ou ritual festivo é de costume presentear com tais.

Chorei também quando soube que muitos alunos não tomam café da manhã, e nada comem durante o dia inteiro, pois não têm dinheiro sequer para pagar os 0,25 centavos de dólar (cerca de 0,50 centavos de real) do transporte coletivo. Alguns caminham cerca de duas horas, sob um sol escaldante, para chegar à Universidade. Claro que eles não têm dinheiro para fazer xérox dos textos que indico, muito menos para comprar algum livro. Quando muito, alguns possuem um pequeno dicionário de tétum-português… Todos moram nos distritos, são filhos de agricultores e aqui em Díli residem na casa de parentes ou alugam um quarto de fundo de quintal.

Mas eles também me trazem muitas alegrias. Divirto-me em nossas aulas tentando falar tétum para que eles falem português. Eles aprendem mais rápido que eu. Alegro-me a cada dia ao perceber que eles estão me entendendo perfeitamente, tão diferente de quando chegue. Vencemos as barreiras iniciais de comunicação, mas ainda há tantos outros desafios. Eles compreendem o que falo, mas não sabem escrever. É preciso mais tempo, mais livros, mais aulas de português. Ainda não sabemos se o projeto vai continuar, e, se continuar, se eles terão acesso a aulas de português. Este é outro grande problema: como aprender uma língua sem ter aulas?

Parece que esta geração de jovens timorenses carrega uma defasagem estrutural: não tiveram uma educação básica e secundária em português, e talvez não tenham uma educação universitária em português, pois a maioria dos professores timorenses leciona em tétum, a outra língua oficial do país. Esse certamente é um dos grandes desafios que o governo tem pela frente.

 

Shirlei Ines Mendes da Silva

de Díli, Timor-Leste

Shirlei Mendes da Silva

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