Pesquisa de estudante propõe aplicação de microrganismo encapsulado para solucionar fissuras no concreto
Postado as 27/08/2019 08:30:31
Por Júlia Amaral
O cimento é o material mais utilizado na construção civil. Embora apresente excelente resistência à compressão, quando tracionado tende a fissurar e romper com facilidade. Essas fissuras são responsáveis por grande parte da deterioração das construções. Para diminuir os problemas de fissuração, existem propostas como o uso de aditivos cristalizantes ou adições que induzam a cicatrização. Essa opção acaba, no entanto, por diminuir a resistência mecânica ou influenciar no pH do produto.
Uma alternativa a essa dificuldade foi apresentada por Graciela Mânica, estudante de Engenharia Civil da Universidade do Vale do Taquari - Univates, no seu Trabalho de Conclusão de Curso (TCC), orientado pela professora doutora Claucia Fernanda Volken de Souza. O projeto é inovador pois sugere a utilização de microrganismos precipitantes de carbonato de cálcio, ou calcita (CaCO3), para solucionar os problemas de fissuração sem interferir de maneira negativa em propriedades de materiais cimentícios.
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Júlia Amaral
Dessa forma, quando as fissuras aparecem e recebem a umidade do ar, o microrganismo é ativado e as fendas são seladas, sem necessidade de utilizar mais cimento para fechá-las. “Se levarmos em conta que a produção do cimento causa impactos ambientais consideráveis, a utilização desses microrganismos também ajuda nesse sentido”, explica Graciela. Para a professora Claucia, o trabalho possibilita o emprego de uma tecnologia inovadora, sustentável e de baixo custo. A docente diz que a aplicação biotecnológica na área da construção civil foi uma atividade nova para ela. “Nesse sentido, o apoio do professor Rafael Mascolo, do curso de Engenharia Civil, foi importante para o desenvolvimento do trabalho”, lembra.
Os microrganismos, um encapsulado e outro não, foram adicionados aos corpos de prova de concreto com fissuras. Esses materiais foram mergulhados em água ou água com ureia para ativação do microrganismo.
Posteriormente observou-se a recuperação das fissuras nos que continham o encapsulamento. Nos outros casos, incluindo os corpos de prova sem nenhum tipo de microorganismo, não houve a cicatrização. Um teste caseiro de Graciela também comprova a autenticidade da pesquisa. “Apliquei o microrganismo encapsulado nas fissuras que surgiram na casa de uma amiga e em 15 dias elas estavam cicatrizadas”, conta.
Da mesma forma, foi verificado se as cápsulas poderiam interferir na resistência da argamassa. Os ensaios à tração e à compressão foram realizados aos sete e aos cem dias, sendo verificada redução de resistência principalmente à compressão. Quando adicionado de forma livre, o microrganismo demonstrou, porém, interferir positivamente, aumentando a resistência à compressão. Graciela esclarece que as cápsulas baixaram a resistência à compressão em função do seu tamanho, de aproximadamente 4 mm.
Conforme a estudante, o trabalho utilizou esse tamanho de cápsula porque foi uma primeira tentativa e o tempo relativamente curto para testar diferentes tamanhos. Graciela pensa agora em continuar a pesquisa em um mestrado. Assim ela teria a oportunidade de testar outras maneiras de aplicar o microrganismo ao concreto, a fim de viabilizar em escala real, já que a pesquisa foi feita em escala de laboratório.