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Tão comum, tão tóxico: exposição ao mercúrio pode afetar sua saúde

Por Nicole Morás

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Uma das maiores dificuldades no estudo da Química é compreender que tudo, T-U-D-O, ao nosso redor é composto por algum(ns) dos 118 elementos da Tabela Periódica. Talvez por que não se consiga visualizar isso a olho nu, não percebemos esses elementos no nosso dia a dia. Mas isso não quer dizer que eles não são importantes ou que não podem ser prejudiciais à nossa saúde.

Exemplo disso é o mercúrio (ou Hg), um metal de transição largamente utilizado na produção de lâmpadas fluorescentes e termômetros e que, há não muito tempo, também estava presente no mercurocromo e no Merthiolate – líquidos de cor avermelhada que serviam para “limpar” ferimentos mais superficiais ou mais profundos. O que muita gente não sabe, no entanto, é que o contato desse elemento metálico com o organismo pode causar lesão ao sistema nervoso.

De acordo com o coordenador do curso de Medicina da Univates, o médico Luís Fernando Kehl, em níveis excessivos, o mercúrio pode causar danos teciduais no organismo humano. Os órgãos mais atingidos são o cérebro, os rins e os pulmões. As manifestações clínicas variam conforme a dose de mercúrio circulante e o tempo de exposição. “Costuma ocorrer neuropatia periférica, com manifestações de coceira, parestesias, ou seja, alterações de sensibilidade, dor, descamação de pele e edema periférico”, explica ele. Kehl acrescenta que a intoxicação por mercúrio causa diminuição da atividade de enzimas que destroem as catecolaminas circulantes, como a adrenalina. “Isso faz com que o paciente apresente taquicardia, sudorese profusa e vermelhidão no rosto”, explica.

No sistema nervoso central, as manifestações de intoxicação por mercúrio incluem diminuição da memória, insônia e diminuição da capacidade de estímulos à musculatura esquelética. A agressão ao rim produz gradativa insuficiência renal, com perda da capacidade de concentração urinária. “Durante o período gestacional, a passagem do mercúrio pela placenta pode acarretar danos ao feto, inclusive malformações”, salienta o médico.

Em caso de acidente, o que devo fazer?
Mesmo podendo afetar nossa saúde, o mercúrio ainda é utilizado em materiais básicos, como lâmpadas fluorescentes e termômetros. Por isso, no caso de esses objetos serem quebrados, algumas medidas devem ser observadas para evitar contaminação. No caso de quebra de termômetros e outros instrumentos contendo mercúrio, a bióloga Cátia Gonçalves, do Programa Interno de Separação de Resíduos (PISR) da Univates, orienta para ventilação e interdição do local. “A remoção pode ser feita com uma folha de papel bem fina ou com ajuda de uma seringa. O material deve ser depositado em um recipiente apropriado e inquebrável, protegido da luz solar direta e em local com baixa temperatura”, explica. É indicado deixar uma lâmina d'água sobre o piso ou superfície, podendo ser usado ainda pó de enxofre ou óxido de zinco. A limpeza da área deve ser feita com água e sabão, sendo encerado em seguida para que o piso não retenha o mercúrio. Os termômetros danificados podem ser levados à Unidade Básica de Sáude mais próxima para destinação correta.

No caso de lâmpadas fluorescentes quebradas, o ambiente também deve ser isolado e ventilado, porém, sem auxílio de condicionadores de ar. Os pedaços de vidro e o pó podem ser retirados com auxílio de um papel e depositados em uma lixeira especial para vidros. “Uma dica é utilizar fita adesiva para retirar pedaços menores de vidro do chão e dos móveis”, acrescenta Cátia. A área deve ser limpa com água e sabão, sendo encerada para prevenir a absorção do mercúrio. No Rio Grande do Sul, tanto no caso de termômetros como no de lâmpadas fluorescentes, os resíduos devem ser devolvidos ao local de compra, conforme previsto no Decreto 45.554, de março de 2008, devendo os fabricantes ou representantes comerciais darem destino correto ao material.

Laboratórios
Na Univates, o mercúrio é utilizado nos barômetros de Física e nas análises químicas de Demanda da Quantidade de Oxigênio. De acordo com a coordenadora do Programa Interno de Separação de Resíduos (PISR), Cátia Gonçalves, ainda não há tecnologia que substitua a utilização do mercúrio. Por isso, em caso de acidentes, os monitores da Instituição são orientados a acionar o PISR para que seja dada destinação correta aos resíduos.

Consumo invisível
Kehl explica que os níveis de mercúrio no plasma podem ser diagnosticados. “Normalmente, a taxa de mercúrio está inferior a 6 microgramas por litro”, afirma. No entanto, em pessoas com uma dieta baseada exclusivamente em produtos de origem aquática essa taxa pode ser superior a 200 microgramas por litro de sangue. “A principal fonte de contaminação de humanos é pela ingestão de produtos como peixes,  oriundos de locais contaminados por mercúrio”, acrescenta.

Doença de Minamata
Em 1956, muitos moradores de Minamata, no Japão, apresentaram distúrbios sensoriais nas mãos e pés, danos à visão e à audição, fraqueza e, em casos extremos, paralisia e morte. Pensando em se tratar de uma nova doença, na verdade os médicos diagnosticaram que as mortes registradas naquela localidade foram verificadas em pacientes com alto grau de consumo de peixes da baía daquela região. A explicação foi a contaminação da água com mercúrio por uma empresa de fertilizantes químicos que havia se instalado na localidade 20 anos antes. A partir desse episódio, a síndrome neurológica causada por severos sintomas de envenenamento por mercúrio é conhecida como Doença de Minamata. Somente após 57 anos do ocorrido, foi assinado, em outubro de 2013, a Convenção de Minamata, por ocorrência de um encontro organizado pela Organização da Nações Unidas (ONU) em Kumamoto, no sudoeste japonês, perto de Minamata. Pela convenção, 140 países, entre eles o Brasil, firmaram compromisso sobre o uso e emissão de mercúrio. A convenção prevê, sobretudo, que, em 2020, os produtos que usam mercúrio, como os termômetros, tenham desaparecido e no prazo de 14 anos deixe de ser usado na mineração.

Texto: Nicole Morás

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