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Precisamos falar sobre diferenças

Postado em 24/06/2016 10h11min

Por Elise Bozzetto

Potencialidade. Segundo o dicionário Houaiss, “que se encontra em potência, em estado inacabado; que ainda não desenvolveu plenamente suas tendências inatas ou intrínsecas; que ainda não atingiu a plenitude de sua forma final”. Ou, ainda, “conjunto de qualidades inatas de um indivíduo”. Quando alguém afirma que tem talento para gerir pessoas mas é péssima em matemática, esta pessoa está falando de uma potencialidade que, a princípio, nada ou pouco tem a ver com sua deficiência. O potencial de cada um não pode ser medido pelas suas deficiências, sejam elas falta de habilidade ou limitações físicas e cognitivas. É óbvio. Será?
 
Uma história de exclusão a ser superada
 
A História mostra que as pessoas com deficiência até bem pouco tempo eram isoladas da sociedade, frequentando ambientes especializados. Elas não eram vistas a partir das potencialidades que poderiam ter ou desenvolver, e sim a partir de suas limitações. Com isso, a atual geração que está no mercado de trabalho e à frente das salas de aula perdeu a oportunidade de aprender com a diversidade e agora, despreparada, recebe profissionais e estudantes com deficiência e não sabe muito bem como lidar com isso. Até porque o olhar desta geração está focado nas deficiências e então fica difícil ver as potencialidades. 
 
Na década de 40 cunhou-se a expressão “crianças excepcionais”. O senso comum indicava que essas crianças não poderiam estar nas escolas regulares. Na época, foram criadas entidades até hoje conhecidas como as Apaes. Essas entidades, até hoje influentes, passaram a pressionar o poder público para que este incluísse na legislação a “educação especial”. Foi somente nos anos 60 que, na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, surgiu espaço para a educação especial. Mas foi só a partir da década de 80 que o Estado reconheceu a importância das pessoas com deficiências estarem inseridas nos ambientes escolares e de trabalho comuns a toda a população. 
 
Segundo a Organização Nacional das Nações Unidas (ONU), 10% da população mundial têm alguma deficiência. A Lei 8.213/91, da década de 90, chamada de Lei de Cotas para Pessoas com Deficiência, determina uma cota mínima em empresas com mais de 100 empregados. Isso trouxe benefícios para muitos deficientes que foram colocados no mercado de trabalho. 
 
Proporção de vagas reservadas para pessoas com deficiência:
de 100 a 200 empregados: 2%
de 201 a 500 -  3%
de 501 a 1000 - 4% 
acima de 1001 - 5%. 
 
As empresas que não cumprem a demanda estão sujeitas a multas. Uma pessoa é considerada com deficiência quando ocorre a perda ou anormalidade da estrutura ou de sua função psicológica ou fisiológica. Dados recentes do Ministério do Trabalho e Emprego mostram que atualmente existem cerca de 306 mil pessoas com deficiência formalmente empregadas no Brasil. Desse total, aproximadamente 223 mil foram contratadas porque essa Lei de Cotas passou a existir.
 
Gente diferente: ações da Univates em prol da inclusão de colaboradores
 
No ano de 2015 o tema inclusão passou a ser um dos objetivos do planejamento estratégico da Univates que, por meio de planos de ação, buscou contemplar necessidades dos diferentes públicos no que tange à estrutura física, suporte e melhorias em condições de acessibilidade para alunos, funcionários e público em geral. Entre as ações está a Comissão de Inclusão Gente Diferente, que tem o objetivo de desenvolver ações em prol da inclusão de pessoas com deficiência no ambiente de trabalho, buscando sensibilizar os funcionários para a questão da diversidade. Entre as propostas do programa estão a manutenção de uma comissão para discutir assuntos voltados à inclusão e acessibilidade, apresentação do tema diversidade em treinamentos, oficinas e programas de integração, análise constante dos postos de trabalho e sistemática de acompanhamentos para gestores e funcionários.
 
Meu melhor não é minha limitação
 
“Se eu pudesse escolher, não teria nascido com deficiência. É difícil? Sim. Me limita? Sim. Mas tento ver as possibilidades além das limitações e aceitar que posso demorar para conseguir algumas coisas, mas um dia vou chegar lá”. Essa frase é do aluno de Jornalismo da Univates Ricardo Horn. Ele já atuou em duas empresas da região, na parte administrativa, e colocou entre suas metas trabalhar em sua área, o jornalismo, em 2016. Em 2015, foi contratado pela Univates para atuar na Assessoria de Imprensa. Quem conta um pouco das suas potencialidades são seus pais, Lisane Maria e José Ricardo Horn.
“Sempre incentivamos o Ricardo a estudar, a ir atrás do que ele quer. Escondemos dele, por muito tempo, que existem alguns privilégios como a lei das cotas, justamente para ele batalhar e conquistar seu espaço com mérito”, pontua o pai. A escolha pelo jornalismo, em 2015, surpreendeu os pais. “Fiquei surpresa. Sempre achei que ele iria para a área do design. Ele é um ótimo desenhista. Desde pequeno ele era especialista em ampliar com perfeição desenhos pequenos. Mas a escolha por comunicação foi acertada, ele sempre foi muito comunicativo, adora conversar com as pessoas, se expressa muito bem. Lembro no tempo da escola, ele integrava um grupo de teatro e representava muito bem”, recorda Lisane. Para Ricardo, a escolha começou a se revelar no final do ensino médio, mas foi no mercado de trabalho que ele descobriu seu talento e paixão pela área da comunicação. “Eu já gostava da área de humanas durante o ensino médio. Quando comecei a trabalhar e a atender ao público, vi que me relacionar com pessoas era algo fácil e prazeroso pra mim”, declara.
 
Monique Nonnenmacher Fick, estudante de Psicologia, ingressou no mercado de trabalho formal há três anos. Antes Monique trabalhava com sua mãe no salão de beleza da família. Monique tem em sua profissão a missão de ajudar estudantes que possuem deficiência auditiva: ela faz toda a transcrição e o legendamento dos vídeos do Núcleo de Educação a Distância da Univates (Nead). “Quando decidi ir para o mercado de trabalho, tive duas oportunidades de emprego. Optei pela Univates pois aqui teria mais oportunidades de crescimento”, comenta. Para ela, o que mais marcou o novo ciclo foi o desenvolvimento da autonomia. “Eu precisava muito dessa oportunidade de ser mais independente, de conhecer meus limites. Antes, quando trabalhava com minha mãe, havia sempre muita preocupação com o desenvolvimento das minhas atividades. Hoje não, sou mais livre, mais independente em todos os sentidos”, comemora. A escolha pela futura profissão – psicóloga – veio depois de muita maturação. “Desde pequena minha mãe dizia que eu deveria cursar psicologia. Minhas amigas sempre buscavam em mim consolo e conselhos. Nunca dei muita atenção, mas, no final, ela tinha razão. Demorei bastante para me decidir, mas hoje me sinto segura em relação à escolha. Entre minhas qualidades está a capacidade de lidar com adversidades. Consigo sempre me manter calma, bem-humorada. Desde pequena me relaciono com as clientes da minha mãe e desenvolvi um bom relacionamento interpessoal”, destaca Monique.
 
Texto: Elise Bozzetto
Monique Fick

Elise Bozzetto

Ricardo Horn

Elise Bozzetto

 Lisane Maria e José Ricardo Horn

Elise Bozzetto

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